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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Mariza Reis Nunes ComIH, nasceu a 16 de Dezembro de 1973
Mariza Reis Nunes ComIH (Moçambique, 16 de Dezembro de 1973) é uma fadista portuguesa, segundo ela própria corrige na TSF à conversa com Carlos Vaz Marques em 2003, é uma «cantadeira de fados». Foi a única portuguesa até hoje a integrar os concertos do Live 8 e a primeira a ser nomeada para um Grammy Latino, o qual perdeu para Los Gaiteros de San Jacinto, da Colômbia.
O seu concerto para milhares de pessoas no Royal Albert Hall consagrou-a como cantora, e tornou-se uma das vozes portuguesas mais internacionais, presença regular em palcos como o Carnegie Hall, em Nova Iorque, o Walt Disney Concert Hall, em Los Angeles, o Lobero Theater, em Snata Barbara, a Salle Pleyel, em Paris, ou a Ópera de Sydney. Segundo o jornal britânico The Guardian a fadista é «uma diva da música do mundo».
Mariza nasceu na antiga Lourenço Marques, capital de Moçambique (quando este país ainda era uma colónia ultramarina portuguesa), filha de pai português, José Brandão Nunes, e mãe moçambicana, Isabel Nunes. Nasceu prematura, de seis meses e meio sem qualquer justificação clínica aparente[1], e, segundo declarações da cantora à SIC, o pai considerava-a o bebé mais feio que alguma vez vira. «Ainda tinha as orelhas coladas e os olhos por abrir.» [2] e o próprio pai pensou que não sobreviveria. Mas tal não aconteceu.
Ao colo da mãe, com três anos, chegou ao Aeroporto da Portela em Lisboa, pela primeira vez em 1977. Na actual Maputo, o pai conservara por vários anos o confortável emprego de chefe de armazém numa empresa de electrodomésticos portuguesa. Com a eclosão da guerra e a consequente perseguição das famílias portuguesas nas antigas colónias ultramarinas portuguesas, o pai teve que fugir com a família mais chegada, escolhendo Lisboa para recomeçar uma nova vida. Instalaram-se em Corroios e mais tarde no nº22 da Travessa dos Lagares.
Reabriu em 1979 o restaurante Zalala no bairro típico de Lisboa, Mouraria, onde morou a Severa, a primeira fadista, reinventada na voz de Mariza já posteriormente com a sua imaginativa versão de Há festa na Mouraria. Zalala, hoje fechado, o restaurante onde Mariza cresceu, homenageia uma praia moçambicana.
A par da tradição fadista, o pai de Mariza resolveu realizar semanalmente umas tardes de fado no restaurante, já que também adorava o género musical. Foi precisamente a figura do pai que determinou o gosto da cantora pelo fado. Segundo ela, o pai estava «sempre a ouvir fado e, na hora das refeições, nunca se via televisão; ouviam-se discos, sempre de fado...» Fernando Farinha, Fernando Maurício, Amália Rodrigues, Carlos do Carmo, entre muitos outros, eram os predilectos de José Nunes, e foram os que mais influenciaram a forma de cantar de Mariza.
Com cinco anos de idade, recebeu o seu primeiro xaile, e começou então a moldar a voz que a tornou famosa. Sobre o estabelecimento onde aprendeu a cantar o fado e onde actuou pela primeira vez aos cinco anos, já envergando um xaile negro, Mariza referiu:
Foi aqui que toda a história começou. Se calhar é aqui que vai acabar. Tudo pode acabar de repente, tal como começou, e eu volto à minha Mouraria e à taberninha dos meus pais para servir dobradinhas e copos de vinho que não me chateia nada!
— '
Ali cruzou-se «com tantos fadistas que as suas caras já se esfumam na memória». O restaurante permanece fechado à vários anos mas ainda conserva na porta a placa com o seu nome e uma legenda que diz «O cantinho do artista».
Somente a começaram a levar a sério como cantora na adolescência, mas os pais admitiram em várias entrevistas saberem que a filha tinha um «dom». Sempre que cantava tinha a casa cheia, e só cantava caso reinasse o silêncio na sala, fazendo jus à celebre expressão «Silêncio que se vai cantar o fado!». O primeiro fado que interpretou no Zalala foi Os Putos. José Nunes ensinou a letra da canção à filha fazendo desenhos em toalhetes de papel. Ainda a menina não sabia ler, e era a forma de decorar os fados preferidos pelo pai, assim como Cheira bem, cheira a Lisboa e Menina das tranças pretas.
A escola primária da Mouraria, tinha o seu recreio como palco da jovem de seis anos. Em entrevista ao Correio da Manhã, a antiga auxiliar de educação da escola, Dª. Fernanda, referiu qua a jovem fazia uma roda com as colegas e depois ia para o meio delas onde cantava, com a professoras de vigia nos vestíbulos ou atrás das janelas, para que não se sentisse constrangida.
Segundo ela própria e a mãe, um dos seus hobbies era o sapateado, praticado à porta de casa com caricas de Coca-Cola coladas nos sapatos. Cantava em casa e, a cumprir o papel de microfone, utilizava latas de laca e desodorizantes. «Era a minha imitação do Fred Astaire!», declarou posteriormente.
Aos sete anos, convidada por Alfredo Marceneiro Júnior, filho de Alfredo Marceneiro, é convidada para actuar no palco do restaurante Adega Machado, sendo esta a sua estreia numa casa de fados. A casa viria a significar bastante para a aprendizagem de Mariza, que contou neste processo com fadistas como Maria Amélia Proença e outros.
Já na adolescência, Mariza passa a frequentar a Escola Secundária Gil Vicente, onde haviam estudado Maria Rueff, Miguel Sousa Tavares, o Nobel José Saramago, entre outros. Por coincidência do destino, esta escola ensinou ao longo dos tempos 3 pioneiros portugueses, José Saramago, o primeiro Nobel da literatura português, Ruy de Carvalho, um dos maiores nomes do teatro e televisão portugueses galardoado diversas vezes com o Globo de Ouro de Melhor Actor, e, por fim, Mariza, a primeira nomeada portuguesa para os Grammys Latinos e ícone maior do fado contemporâneo. Segundo auxiliares de educação e professores, era uma miúda discreta e recatada que, talvez por gostar de fado e este género ser na altura considerado uma «música menor», em consequência da Revolução de Abril, andava muito sozinha. Contudo, nas visitas de estudo, era a primeira que se dispunha a cantar no microfone para uma plateia formada pelos colegas e professores. Na altura, ainda tinha o cabelo preto e sempre embaraçado, hoje «substituído» por famosos anéis platinados, aos quais dedicou a música Os anéis do meu cabelo. Era hábito seu fugir de casa para ir ouvir as noites de fado para o Grupo Desportivo da Mouraria, onde permanecia à porta, já que não lhe permitiam a entrada.
Enquanto adolescente e até se assumir como fadista cantou diversos géneros musicais como, pop, gospel, soul e jazz. Como a própria admitiu numa entrevista dada à SIC, não caía bem entre os amigos dizer que um dos seus hobbies era cantar fado. Os amigos começaram a mostrar-lhe outro tipo de música, com a qual também se identificou e começou a cantar. Formou com alguns amigos uma banda de covers de nome Vinyl, e costumavam cantar no Xafarix.
Mariza cantava regularmente num bar da Madragoa, o "Berimbar", cuja proprietária é a mãe do seu companheiro, João Pedro Ruela. O Berimbar nasceu em 1985. Ainda hoje o Bar Barimbar é um espaço calmo com música escolhida pela sua proprietária, Maria Cristina Alves, em sintonia com o ambiente do bar. No final do concerto no Pavilhão Atlântico (Novembro, 2007), foi aqui neste bar que Mariza reuniu os seus maiores amigos para uma agradável ceia organizada pela sua "sogrinha", que é como carinhosamente trata a mãe do seu companheiro, mentor e empresário João Pedro Ruela. Ali poderá ainda apreciar um dos discos de ouro que Mariza ganhou nos primeiros anos da sua carreira de cantora.
A música brasileira, na altura, era ainda uma atracção para Mariza. A intérprete viveu mesmo durante cinco meses no Brasil, no ano de 1996. Neste país latino-americano cantou num paquete vários géneros, mas sempre lhe pediam que cantasse fado. A «chama fadista» que estagnara um pouco neste tempo, e com este interesse brasileiro pelo fado acabou por renascer o seu interesse pelo género e revitalizar uma antiga paixão. Retorna a Portugal.
Simultaneamente, foi na Lapa, numa da mais típicas casas de fados de Lisboa, o Sr. Vinho, propriedade de Maria da Fé, uma das mais conhecidas fadistas, e de José Luís Gordo, que Mariza começou a cantar mais profissionalmente. «Maria da Fé foi praticamente a professora dela aqui», segundo José Luís Gordo[13], que chegou a escrever dois fados para a intérprete. A primeira música que cantou em público foi Povo que lavas no rio, a «música-ícone» do fado, poema de Pedro Homem de Mello. Recebendo cerca de 50€ por noite, por ali se manteve durante cerca de um ano.
O director de animação da discoteca Rock City foi convencido a ir assistir ao Xafarix um dita banda que fazia sucesso, os Vinyl. João Pedro Ruela confessou que não gostou muito do grupo ao princípio, nem da sonoridade. Contudo, a sua inserção nas noites da Rock City foi um sucesso, e João Pedro acabou por convidá-los a retornar a cantar no espaço. Mariza e João Pedro começaram a estreitar relações até que em 1997, em conjunto formaram uma banda, os Funkytown.
Por estranho que pareça, antes da sua chegada ao grande público, Mariza já se estava a internacionalizar. Em 1998 tem a sua primeira internacionalização, a convite da Caixa Económica Luso-Belga, para uma actuação em Bruxelas, Seguiu-se Amesterdão. Em entrevista à SIC, a cantora admitiu que tudo aquilo (um «tudo aquilo» que na altura representava salas pequeníssimas com cinquenta lugares sentados no máximo) lhes parecia estranho e alvo de desconfiança.
Em 1999 chega finalmente ao grande público pela mão da Filipe La Féria, que a integrou na lista de cantores que homenageariam Amália Rodrigues num espectáculo no Coliseu de Lisboa (e depois no Coliseu do Porto), transmitido em directo pela TVI. Entre as músicas que cantou estava Oiça lá ó Sr. Vinho, malhão que se tornou num dos ritmos mais conhecidos de toda a sua discografia e que, mais tarde, viria a interpretar no programa Herman SIC, apresentado pelo seu amigo Herman José.
Primeiramente perspectivado para ser somente uma edição privada, feita por insistência de João Pedro Ruela, acabou por ser editada em 32 países . As editoras discográficas portuguesas rejeitaram a gravação dos álbuns de Mariza. No entanto, uma editora holandesa, a World Connection decidiu apostar na fadista editando o seu primeiro disco em vários países.
Num concerto em Bruxelas, Albert Nijmolen, presidente da World Connection, conheceu Mariza e trocaram contactos. Daí surgiu uma amizade e um contrato de edição de discos, o que se tornou igualmente proveitoso para a editora, até então, uma ilustre desconhecida. Actualmente, a editora tem contrato firmado também com Sara Tavares. Começando a realização do trabalho discográfico em 2001, 2002 foi o ano em que Mariza viu o seu primeiro álbum, Fado em Mim, editado, CD que obteve quádrupla platina em Portugal. Mais tarde Mariza viria a tornar-se na principal estrela da editora discográfica.
Entre as principais faixas do CD encontram-se Chuva, o emblemático Ó gente da minha terra, o seu maior hit e o seu primeiro single, e Oiça lá ó senhor vinho, um malhão que assinalou a sua pluralidade vocal tanto em temas melancólicos como em canções alegres.
As fotografias da capa e antecapa são da autoria de Eduardo Mota, o vestido negro e a maquilhagem feitas por João Rôlo e o cabelo penteado por Eduardo Beauté. A produzi-lo, Mariza teve encarregues Tiago Machado e Jorge Fernando. Tiago Machado fez os arranjos de várias músicas, entre elas o single Ó gente da minha terra. Jorge Fernando escreveu a letra de Chuva, música que obteve sucesso na voz de Mariza.
Ó gente da minha terra é a mais emblemática música de toda a sua carreira, também proveniente do repertório amaliano, com arranjos do produtor Tiago Machado. Um dos momentos mais altos da sua carreira, surgiu durante a interpretação desta música no célebre concerto em Lisboa, nos jardins da Torre de Belém, quando Mariza, ao olhar para as cerca de 25 mil pessoas que ali se tinham juntado para assistir ao seu concerto, começou a chorar, sendo seguidamente ovacionada pelo público durante três minutos a fio. Outra interpretação célebre desta música foi a do concerto no Pavilhão Atlântico, em 2007, quando ela própria anunciou que tinha perdido o Grammy Latino, para o qual se encontrava nomeada, e em seguida interpretou o dito fado.
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