Silvestre Pinheiro Ferreira nasceu em Lisboa em 31 de Dezembro de 1769. Os seus pais pertenciam à classe industrial e eram pouco acomodados. Orientado num começo à vida religiosa, o nosso autor entrou, com a idade de quatorze anos, na Congregação do Oratório, onde freqüentou o Curso de Humanidades, tendo revelado grande capacidade intelectual. A atitude crítica que o caracterizava causou-lhe problemas, notadamente com o físico-matemático Teodoro de Almeida, que ficou extremamente incomodado com os pontos de vista do nosso pensador. Em decorrência da sua independência intelectual, Pinheiro Ferreira teve de abandonar a Congregação religiosa, tendo passado a desempenhar, em Lisboa, as funções de professor de filosofia. Em 1794 ganhou, por concurso, a Cátedra de Filosofia Racional e Moral do Colégio das Artes, anexo à Universidade de Coimbra.Vítima novamente ali dos ciúmes acadêmicos de alguns professores, teve de abandonar a Universidade e se refugiar no estrangeiro, a fim de escapar à prisão com que foi ameaçado. Refugiou-se inicialmente em Londres e depois na Holanda. Ao lado do embaixador de Portugal em Haia, António de Araújo, o nosso autor desfrutou de tranqüilidade e apoio, sendo esta a oportunidade para começar a desempenhar funções diplomáticas, pois graças à influência do embaixador português, o nosso autor foi nomeado secretário da embaixada em Paris e, a seguir, secretário da legação diplomática lusa na Holanda. Pinheiro Ferreira partiu, pouco depois, entre 1799 e 1802, para uma viagem de estudos ao norte da Alemanha. Por esse tempo o nosso autor foi nomeado Oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros e, logo a seguir, Encarregado de Negócios de Portugal na Corte de Berlim. O tempo livre que a missão diplomática lhe deixava era dedicado ao estudo das ciências naturais e da filosofia alemã.
Pinheiro Ferreira viajou para o Rio de Janeiro em 1810, tendo desempenhado ali algumas missões oficiais, de caráter diplomático. Nessa cidade morou por espaço de vinte anos. O nosso autor alternava os seus trabalhos no Ministério do Exterior com a docência da filosofia, tendo sido publicadas pela Imprensa Régia, entre 1813 e 1820, as suas Preleções Filosóficas, que exerceram forte influência nas novas gerações, notadamente no que tange à superação do empirismo mitigado legado pelas reformas pombalinas. Proclamada no Rio de Janeiro a adoção do sistema monárquico constitucional, em fevereiro de 1821, Pinheiro Ferreira foi chamado para integrar o novo ministério. Foram-lhe entregues as pastas de Negócios Estrangeiros e da Guerra. Praticamente sobre os seus ombros recaiu a chefatura do novo governo de Dom João VI, cabendo-lhe, destarte, a difícil tarefa de dar o passo da monarquia absoluta para a constitucional. Pinheiro Ferreira desempenhou a sua missão num ambiente bastante hostil, caracterizado pelo enfrentamento entre absolutistas, de um lado, e jacobinos, de outro. No desempenho dessas funções, acompanhou o rei Dom João VI no seu regresso a Portugal. Pouco tempo depois de ter chegado ali (em maio de 1823), pediu demissão do Ministério, em decorrência da radicalização crescente, que terminou obrigando-o a se exilar na França. No período da sua permanência em Paris (entre 1823 e 1842), o nosso autor deu acabamento ao seu sistema filosófico e completou a sua obra de constitucionalista e teórico do liberalismo. Dentre as várias obras que escreveu na capital francesa, ressaltam o Manual do cidadão em um governo representativo (1834) e o seu tratado intitulado Theodicée (1845).
Em várias oportunidades Pinheiro Ferreira foi eleito deputado à Câmara portuguesa (em 1826, quando se encontrava em Paris; em 1838 e em 1842), mas somente assumiu esse cargo representativo na última oportunidade, poucos anos antes da sua morte, acontecida em Lisboa em 2 de julho de 1846, aos 76 anos de idade. Ao longo do seu mandato como deputado, em 1843, apresentou à Câmara uma série de projetos que resumiam os seus profundos conhecimentos em ciências políticas e administrativas e que continham um sistema completo de organização do país, em harmonia com os princípios da Carta Constitucional. Em que pese o fato de os projetos legislativos não terem tido, imediatamente, a repercussão que mereciam, representaram mais uma contribuição do ilustre filósofo e político ao campo do direito público português. A obra de Silvestre Pinheiro Ferreira é bastante extensa, especialmente no terreno da filosofia política e do direito constitucional. Os seus vários escritos são enumerados na parte correspondente à bibliografia do nosso autor.
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