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domingo, 23 de janeiro de 2011

Hotel do buçaco

O Palace Hotel do Buçaco é uma edificação neomanuelina, construída entre 1888, ano da aprovação do projecto de Luigi Manini, e 1907, data em que abriu o concurso público para a sua concessão, por um prazo de 19 anos, ganho por Paul Bergamim e com contracto celebrado em 12 de Novembro desse mesmo ano. A história deste local é, no entanto, muito anterior, remontando a 1628-30, época que testemunhou o início da edificação do único Deserto carmelita existente em Portugal, e do qual apenas a igreja foi conservada e integrada no projecto oitocentista.
De acordo com estudos recentes, particularmente desenvolvidos por Paulo Varela Gomes (2004, pp.37-43), o convento dos Carmelitas Descalços constituiu uma obra de arte total, da qual faziam parte a própria mata, cuja frondosa e muito diversificada vegetação é evocativa do monte carmelo e do paraíso terrestre, bem como todas as construções associadas, de que destacamos as ermidas e as capelas da Via Crucis, que representam os Passos e as estações da Paixão, e compõem o mapa da cidade Santa de Jerusalém (IDEM, p. 38). A Via Sacra deve-se à iniciativa de Manuel de Saldanha, Reitor da Universidade de Coimbra, mas as capelas que hoje conhecemos são 50 anos posteriores, do final do século XVII, e mandadas construir pelo bispo-conde de Coimbra, D. João de Melo. À semelhança de outros exemplos do Buçaco, também estes pequenos edifícios de planta quadrada foram revestidos por materiais pobres, constituindo os denominados embrechados, considerados, actualmente, um dos aspectos arquitectónicos mais originais do conjunto (MECO, 2004, p.94).
Do ponto de vista da interpretação deste Deserto, e retomando, de forma genérica, a via seguida por Paulo Varela Gomes, o Buçaco enquadra-se nas discussões sobre a origem da Ordem, que geraram acesa polémica no seio da Igreja. A este quadro junta-se a situação política portuguesa e a Inquisição, cujos membros mais significativos se encontram ligados ao Buçaco, e à Via Crucis que destaca a pressão judaica na morte de Jesus, conferindo maior destaque ao Pretório e ao Calvário (p.39). Assim, pode concluir-se que "O Sacromonte foi embelezado e desenvolvido como afirmação poderosa da antiguidade dos Carmelitas e da intransigência católica" (pp. 39-40).
Já depois da Extinção das Ordens Religiosas, D. Maria Pia pretendeu criar neste espaço um palácio real, que rivalizasse com a Pena, mas os planos acabaram por não se concretizar e o então Ministro das Obras Públicas, Emídio Navarro, muito ligado ao Buçaco, propôs a construção de um palácio do Povo, ou seja, um hotel (ANACLETO, 2004, p.66). Para tal, encarregou o cenógrafo Luigi Manini, que terminou as primeiras aguarelas em 1886. O plano foi aprovado em 1888 e as obras tiveram início ainda nesse ano. A antiga igreja, em torno da qual se encontravam as primitivas celas, foi conservada no seio do novo edifício, bem como algumas das estruturas conventuais. Manini inspirou-se na Torre de Belém e no Claustro dos Mosteiro de Santa Maria de Belém, para criar no Buçaco uma obra que não pode ser considerada apenas como um neo, mas sim como uma recriação ecléctica que denota aspectos historicistas, mas pouco relacionados com o retorno ao passado ou a ideias românticas (ANACLETO, 2004, p.66).
Sem nos podermos alongar demasiadamente nesta descrição, salientamos ainda alguns dos nomes ligados a esta grandiosa obra, como foram os arquitectos Nicola Bigaglia, José Alexandre Soares e Manuel Joaquim Norte Júnior, este último responsável, em 1905, pelo projecto da denominada Casa dos Brasões, que segue a lógica das Beaux-Arts. A partir de 1903, foram contratados diversos artistas para decorar os interiores do Hotel, entre os quais se encontram os pintores António Ramalho, Carlos Reis, João Vaz, o pintor de azulejo Jorge Colaço (que executou, entre outros, os painéis do vestíbulo, alusivos à Batalha do Buçaco), e o escultor Costa Motta Sobrinho, responsável pelos grupos escultóricos da Via Sacra. (RC)

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