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terça-feira, 2 de agosto de 2011
Grandes Personagens - JOÃO MARIA SARMENTO PIMENTEL
JOÃO MARIA SARMENTO PIMENTEL (1888-1987)
Nasceu em Mirandela, em 18.12.1888 e faleceu em S. Paulo (Brasil), em 13.10.1987. Ainda menino e moço foi para o Colégio de Santa Quitéria em Felgueiras, onde os pais que eram abastados, tinham uma grande casa e haveres. Ele próprio virá a confessar: "Meu pai era um proprietário rico, tinha três quintas em Trás os Montes e um rendimento que nos permitia fazer vida larga. A Casa da Torre, em Felgueiras, era de minha avó e pertencia ao Solar de Sergude. Depois matriculou se no Colégio liceu de Guimarães, com professores de nomeada, como o Cónego José Maria Gomes, Padre Fiúza, Padre Sanches, etc.
Assim se preparou para a carreira das armas que seria interrompida por razões ideológicas. Tomou parte activa no grupo dos Cadetes da Rotunda (1910). Participou nas campanhas de África e na Flandres. Destacou se em 1919, no Porto, ao assumir uma posição marcante, aquando da implantação da Monarquia no Norte.
Fez parte da direcção da Seara Nova, em 1924. Interveio no movimento revolucionário de Fevereiro de 1927, em consequência do qual foi obrigado a refugiar se no Brasil, quando et a capitão. Aí publicou, em 1962, o livro Memórias de um Capitão.
Quando ocorreu o 25 de Abril de 1974 veio a Portugal, sendo triunfalmente recebido. Foi nessa altura promovido a coronel e, em 1982, seria promovido a general. Com as entrevistas que deu à imprensa, em 1976, saiu um livro a que foi dado o título: Sarmento Pimentel ou uma geração traída, com prefácio de Vitorino Nemésio.
1888 - Nasce em Mirandela a 18 de Dezembro.
1912 - É promovido a alferes de Cavalaria, a 15 de Novembro, depois de ter cursado a Escola do Exército.
1915 - Toma parte nas campanhas do Sul de Angola, e comanda uma força que recupera o posto de Naulila, abandonado no ano anterior.
1918 - É promovido a Capitão.
1919 - Durante o movimento militar que proclama a Monarquia no Porto, põe-se à frente das forças fiéis que restauram a República naquela cidade, após uma rápida e enérgica luta.
1921 - Torna-se membro da direcção da revista Seara Nova.
1923 – Escreveu a obra Cruzeiro Sul e Filha de Lázaro (Teatro)
1925 – Escreve a reportagem Mais Vale Andar no Mar Alto e dois anos depois O Crime de Augusto Gomes e a Viagem Maravilhosa
1927 - Após participar do movimento de Fevereiro contra o Estado Novo salazarista, instalado no ano anterior, é demitido e exila-se no Brasil, fixando-se em São Paulo.
1928- Escreveu o livro Pimpinela.
1942 – Dá à estampa a biografia O Exilado de Bougie e Terra Ardente
1962 - Edição brasileira da Primeira Parte das Memórias do Capitão.
1972 – Escreveu a Magnífica Aventura
1974 - Edição portuguesa completa das Memórias do Capitão. Regressa a Portugal. É promovido a coronel
1982 – É promovido a general.
1987 - Falece em Lisboa.
[...]
Dali passei a Santo Tirso, onde estive numa quinta toda murada com grande cerca de convento. Uma semana depois fui para a Torre, a velha casa de quando eu era moço e feliz. Só dois dias, e uma antiga criada apavorada, pois a Polícia já lá tinha estado e vasculhara tudo, até os gavetões do arcaz da sacristia da Capela. Portas e janelas fechados para que ninguém suspeitasse que alguém dos donos estava ali, era como alma penada a passear pelos salões, quartos, corredor e na varanda à noite, no escuro, ouvindo a água das taças do jardim a chorarem baixinho as mágoas da minha desventura.
E os mortos vinham-me à lembrança, também assistiam aquele drama e contavam os desenganos, os sofrimentos, os triunfos por que passaram, pareciam sentados naquelas cadeiras, dormindo nas amplas cadeiras de espaldar, passeando pelas ruas do jardim, as velhas matronas colhendo flores para a capela, onde a Nossa Senhora das Dores, com o filho morto no colo, chorava da injustiça e da crueldade dos homens. Outras vezes aquelas roseiras que vinham até a varanda deram as rosinhas de toucar para enfeitarem o caixão dum pequenito e que a pobre mãe pedia por esmola, lágrimas nos olhos tristes e saudosos, dizendo, entre soluços duma mágoa que só as mães trazem estampadas no rosto quando perdem um filho, que o seu anjinho, assim enfeitado e todo de branco iria para o céu mais contente, e era até uma Graça do Senhor tê-lo levado, pois já não passava mais fome nem frio, como os outros irmãos, que ficaram neste mundo dos "pobres".
[...]
JOÃO SARMENTO PIMENTEL, Memórias do Capitão.
"O capitão João Sarmento Pimentel não só foi testemunha como participou em alguns actos da tragi-comédia que se representou entre nós no decurso desse agitado período que vai desde a implantação da República em Portugal e dos anos conturbados que se lhe seguiram até à instauração da ditadura que o movimento militar de 28 de Maio de 1926 nos impôs. Acompanhou ou tomou parte, mesmo durante a sua permanência no Brasil, onde se exilou após o malogro da revolta militar que teve começo no Porto em 3 de Fevereiro de 1927 e foi tardiamente secundada pelas forças que em Lisboa tinham dado a sua adesão, comprometeu-se, como íamos dizendo, em todos os movimentos que se tentaram para derrubar o regime autocrático instituído em 28 de Maio e que Salazar consolidou e endureceu quando assumiu, mais tarde, a presidência do Conselho. Sarmento Pimentel lutou, depois, sem descanso, em todas as frentes, na Pátria e no exílio, pela palavra e pela acção, para ajudar a libertar o País do longo cativeiro que nos privou dos direitos inerentes à condição humana e acarretou outras calamidades que desacreditaram o sistema, criando-nos, deploravelmente, uma vergonhosa situação de povo tutelado ao qual foi negada a maioridade política ..."
[Norberto Lopes, in Sarmento Pimentel ou a uma Geração Traída, 1976]
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