Começa a ser tempo de os funcionários públicos dizerem basta. Já os proletarizaram, já lhes aumentaram todas as contribuições, já lhes cortaram o vencimento, á lhes tiraram meio subsídio de Natal em 2011 e agora vão cortar-lhes os subsídios. Talvez pior do que este empobrecimento forçado só porque o Governo não conta com os seus votos é a humilhação diária a que estão sendo sujeito por governantes cretinos e mal formados.
Que autoridade tem o rapazola da secretaria de Estado da Administração Pública para num dia falar de novas tabelas salariais e no outro dizer que é necessário despedir funcionários? Um senhor que é responsável pelos recursos humanos de uma entidade (Banco de Portugal) que há anos que se comporta em matéria de salários e de pensões como se a sede fosse na Suíça, no momento em que foi convidado para secretário de Estado deveria ter tido a dignidade de recusar o cargo, um responsável dos recursos humanos do BdP deveria ter o bom senso de se esconder dos portugueses.
Quem é o Passos Coelho para justificar os cortes salariais com o argumento de que os funcionários públicos ganham mais do que os dos privados, lançando portugueses contra portugueses num momento tão crítico? Quando fala dos funcionários públicos deviam levantar-se e fazê-lo de forma respeitosa, a esmagadora maioria dos quadros do Estado têm melhores habilitações do eu Passos Coelho, tiraram os cursos em boas universidades aos vinte anos e começaram a trabalhar com vinte e poucos anos. Não são como um primeiro-ministro que tirou uma licenciatura que numa universidade digna desse nome vale pouco mais do que um nono ano, só a concluiu aos trinta e muitos e começou a trabalhar aos quarenta nas empresas de recolha de lixo do “tio” Ângelo Correia, certamente a ganhar mais do que qualquer funcionário público ou mesmo que qualquer detentor de um cargo público.
Quem afundou o país não foram os funcionários públicos ou, para excluir os trates que os partidos colocaram no Estado, a maioria desses funcionários públicos, foram políticos incompetentes, oportunistas e corruptos. Não foram os investigadores que estudam noitadas e que investem do seu bolso, não foram os professores universitários que compram os livros com que estudam ou os computadores que usam, os polícias que têm de pagar as fardas do seu bolso ou os bombeiros que como aqueles ganham miseravelmente e têm de roubar para comer, não foram os médicos que dão milhares de horas de trabalho gratuito ao Estado, os professores que dão o litro ou os funcionários que são escravizados nos serviços de finanças para atingirem as metas em troa de nada.
Quando o ministro vem agradecer aos funcionários que condenou á pobreza por terem contribuído para que o país tenha passado na avaliação da troika devia sentir vergonha, no seu ministério pratica-se o esclavagismo, trabalha-se para além do horário sem qualquer remuneração e quando se produz o OE há quem tenha que ficar noitadas seguidas, sem qualquer remuneração ou dias de descanso e ainda têm de pagar o jantar dos seus bolsos.
É tempo de reagir, de acabar com esta pouca vergonha de ofensas à dignidade de centenas de milhares de pessoas, tempo de os funcionários públicos dizerem não e derrubarem governantes que não os espeitam, que governam à margem das regras constitucionais. E para derrubar este ou qualquer outro governo de idiotas não é necessário qualquer revolução ou andar à estalada com a polícia de choque, basta baixar os braços, deixar de trabalhar um minuto para além do horário de trabalho, cumprir as normas com rigor, deixar de ter ideias, de fazer sugestões ou esclarecer políticos incompetentes.
Está na hora de mostrar aos portugueses que a Função Pública é indispensável e que sem ela nenhuma empresa privada sobrevive ou é competitiva, está na hora de mostrar ao Governo que os funcionários públicos não são um rebanho de cobardes. Hoje cortam-lhes os vencimentos e ofendem-nos, amanhã irão despedi-los. Está na hora de o evitar e de derrotar este governo abusador.
Publicada por Observador
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