«Como se sabe, a receita da troika revelou-se um desastre na Grécia. Como sabemos que o mesmo não se repetirá por cá? É que, segundo a lógica, a mesma medida aplicada duas vezes terá o mesmo resultado. A não ser, claro, que a realidade a que se aplica seja diferente. E é nisso mesmo que Jürgen Kröger, representante da Comissão Europeia na troika, acredita. É sensato. Qual é então a diferença? "Portugal não é a Grécia: há estabilidade e as pessoas são boas".
A primeira premissa seria aceitável. (…) Mas o segundo argumento é que resume bem a crença desta gente. O nosso povo é bom. (...) Temos portanto uma nova variável a ter em conta na teoria económica: a "bondade dos povos". Aconselho mesmo que as agências de rating passem a dar, como fazem com as dívidas soberanas, notas ao carácter das Nações. Os gregos são lixo. Os portugueses são A-. E os alemães, como o senhor Kröger, serão AAA. Diria que o senhor Kröger é racista. Mas não é preciso tanto. É apenas mais um burocrata idiota que, subitamente, decide do futuro de dez milhões de almas. O problema é que de idiotas como este que o nosso futuro depende. Assustador, não é? Pode dar-se o caso deste senhor estar a falar do mito dos nossos "brandos costumes. (...) Temos dias, senhor Kröger, temos dias.»
Daniel Oliveira
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