10.01.2012
Portugal vive um dos maiores escândalos das últimas décadas, envolvendo os serviços secretos e a Maçonaria. Tudo começou com materiais publicados no jornal Público segundo os quais Jorge Silva Carvalho, ex-diretor do SIED (Serviço de Informações Estratégicas de Defesa), um dos serviços secretos portugueses, teria passado informações confidenciais indevidas ao grupo empresarial privado Ongoing para onde foi trabalhar após a demissão do SIED.
O Partido Comunista Português pediu audições parlamentares sobre os serviços de informações. De acordo com o deputado António Filipe, as audições provaram que existe promiscuidade entre grupos empresariais privados e altos cargos do SIED, nomeadamente, o seu ex-diretor Jorge Silva Carvalho.
Na primeira versão do relatório das audições surgem referências que indiciam ligações e suspeitas de envolvimento de Jorge Silva Carvalho, com grupos de pressão, nomeadamente, ramos da Maçonaria e conluios de poder com a ambição de ocupar cargos de poder, lê-se no site da rádio TSF.
Posteriormente, numa outra versão do relatório acordado entre os vários deputados, as referências à Maçonaria foram retiradas. O Partido Social Democrata, maioritário no Governo, afirmou que a retirada das referências à influência maçónica nos serviços foi devida às pressões conjuntas do Partido Socialista e do PP-CDS (Partido Popular).
Posteriormente, a imprensa publicou uma lista de conhecidas personalidades pertencentes à loja maçónica portuguesa Mozart. As últimas notícias dão conta de ligações entre maçons da Loja Mozart, da Grande Loja Regular de Portugal (GLRP), e o grupo Ongoing.
Daquela obediência maçónica e dessa loja, segundo vários órgãos de comunicação social revelaram nos últimos dias, fazem parte o líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, e um dos seus vice-presidentes, Miguel Santos, para além do presidente da Ongoing, Nuno Vasconcellos, e o antigo diretor do SIED e atual quadro daquela empresa, Jorge Silva Carvalho, escrevia o jornal Público no passado dia 7.
O Jornal de Notícias garante serem às dúzias os maçons presentes na Assembleia da República (Parlamento), sendo que, entre eles, estão os líderes parlamentares dos dois maiores partidos: Luís Montengro, do PSD, e Carlos Zorrinho, do PS, os quais, em conjunto, dirigem 182 deputados, ou seja, quase 80% do plenário.
Vários dos políticos referidos já assumiram nos últimos dias pertencer à Maçonaria, nomeadamente o líder parlamentar do partido governante (PSD) e João Cravinho, antigo ministro. João Cravinho admitiu que pertence a esta sociedade secreta, dizendo que todos os membros deviam assumir publicamente que o são. O ex-ministro diz que é filiado há 15 anos, mas frequentou poucas sessões.
A ideia de que o atual PSD está fortemente influenciado pela Maçonaria deixou o partido fortemente embaraçado, escreve o jornal Expresso.
Estas revelações têm provocado enorme perplexidade e polémica na opinião pública, havendo quem exija que todos os membros da Maçonaria com cargos no Estado se assumam publicamente.
Não fico tranquilo por saber que há membros da Maçonaria nos serviços secretos, disse Miguel Sousa Tavares, jornalista e escritor, em entrevista televisiva.
Sendo secreta, esse poder /o da Maçonaria/ não está sujeito ao escrutínio público. E isso é perigoso para a democracia.
Mas a coisa fica bem mais grave quando percebemos que naqueles espaços se traficam, em segredo, os segredos do Estado. Ou seja, que estas organizações se apoderam, usando da sua obscuridade, de funções que a democracia reservou ao Estado. Ou que, como é o caso de Luís Montenegro, escondem incompatibilidades de funções.
Ficámos ontem a saber que o advogado e líder parlamentar do PSD, Luís Montenegro, pertence à loja Mozart (…) Montenegro é membro da Comissão Parlamentar de Assuntos Constitucionais, Liberdades e Garantias, que tem investigado as irregularidades no SIED. Ou seja, investigador e investigado são colegas de avental numa loja que tem sido envolvida no tráfico de informações das secretas, escreve o comentador Daniel Oliveira no jornal Expresso.
Por sua vez, o grão-mestre do Grande Oriente Lusitano (GOL) – Maçonaria Portuguesa, Fernando Lima, considera que qualquer lei que obrigue os candidatos a lugares públicos a declarar a sua pertença a associações maçónicas é discriminação.
Quando já há quem diga que os próprios jornalistas também deveriam declarar se pertencem ou não à Maçonaria, outros defendem o direito das sociedades secretas.
As instituições democráticas devem ser transparentes, mas a sociedade pode ter organismos secretos, discretos ou exclusivos, sem paredes de vidro. Não podemos confundir instituições com a sociedade em geral. Na sociedade, x pode fazer um clube onde só entram pessoas ricas; y pode fazer um clube onde só entram brancos, e ninguém tem nada que ver com isso; w pode fazer um clube onde só entram crentes em Cristo, e a sua organização pode ser secreta ou discreta. Os maçons têm todo o direito ao seu clube interdito a profanos, e ninguém tem nada que ver com isso. Dizer o contrário é entrar numa lógica de perseguição, escreve hoje o comentador Henrique Raposo no jornal Expresso.
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