Grécia: A mudança de paradigma Na semana passada, a crise iniciada em 2008 teve mais um novo episódio por força das eleições legislativas gregas. O povo grego fustigado pela austeridade imposta pela troika - FMI, UE e BCE, castiga duramente os "auto-aclamados" partidos políticos do arco governativo ou também chamados de partidos do consenso, que trocam entre si o poder dando a ilusão às massas que escolhem realmente alguma coisa. É a velha escolha entre a Pepsi e a Coca-Cola, quando afinal o dono é o mesmo. Ou seja, a farsa que é na verdade, o chamado mundo democrático, quando afinal o dono é essa coisa tenebrosa, a ditadura financeira, que não tem nacionalidade e sem rosto, que se alastra e envenena as sociedades mundiais. Do resultado eleitoral, saiu um emaranhado político que como se previa não resultou na formação de um governo maioritário, nem mesmo os tais do arco, o Pasok e a Nova Democracia - o equivalente em Portugal ao PS e PSD respectivamente - juntos conseguem obter a maioria no parlamento grego. Dessa forma chegamos ao ponto mais crítico desta crise, ou tudo continua na mesma, ou vamos ter agora a catarse, o ponto de viragem que terá um efeito dominó de consequências imprevisíveis. Aqui emerge a figura de Alexis Tsipras, líder do segundo partido mais votado, o SYRIZA. Como muito provavelmente irão se realizar novas eleições e com uma dinâmica de vitória em torno de Tsipras, a juntar que na Grécia o partido mais votado tem direito a um bónus de mais 50 deputados, podemos estar na iminência de ter um governo fora do arco governativo no poder. Para já e como esse facto agora pode ser real, a ditadura financeira começa a assustar-se, a começar pelas medidas que Tsipras já anunciou que irá tomar se chegar ao poder e pelas ondas de choque que provocou nos mercados financeiros por todo o mundo. Dentre as principais: a nacionalização de toda a banca grega e a devolução por parte desta de 200 mil milhões de euros que se consideram retidos e que deveriam ser entregues ao Estado; o fim do memorando de entendimento com a troika; uma investigação apurada sobre o histórico da dívida grega, bem como, a retirada de imunidade parlamentar aos deputados. Sem dúvida e como muitos o previram esta situação explosiva é o resultado directo dos contratos de empréstimo mal e gananciosamente concebidos que asfixiam as economias intervencionadas. A começar nos prazos curtos contratados e pior, nos juros cobrados na "ajuda" que os políticos do arco e os média gostam de renomear, o que na verdade, são terríveis pactos de agressão contra os povos que suportam estes acordos que fazem ganhar muito dinheiro aos credores. Só por exemplo em Portugal, gasta-se mais nos juros, do que na saúde e na educação, fora as amortizações de capital. Facto que mina qualquer política de crescimento e de emprego, restando aos políticos do arco discursar apenas intenções de fé. Como resultado de todos estes capítulos da crise, temos a Grécia transformada num verdadeiro barril de pólvora, com uma série de variáveis imprevisíveis. A variável militar, é mais outra que pode ser determinante neste processo. A Grécia com o seu medo atávico turco, dedica tradicionalmente uma boa dose do seu orçamento no ministério da defesa, só para se ter uma ideia, a Grécia depois dos E.U.A. é quem mais gasta em defesa nos países membros da NATO, principalmente na indústria de armamento alemã, o qual absorve cerca de 10% da produção militar alemã. A hipótese de golpe militar também tem uma forte probabilidade de ocorrer. Uma coisa é certa, o status quo mudou, quando as pessoas ficam encostadas à parede e sem nada a perder, algo tem que necessariamente mudar... E vai mudar, espalhando sementes um pouco por todo o mundo. Publicado em simultâneo no Cheira-me a Revolução! |
João J. C.Couto
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