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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

A 16 de Agosto de 1773, o Papa Clemente XIV suprime a Companhia de Jesus


Companhia de Jesus
A 15 de agosto de 1534, acompanhado de seis discípulos, Inácio de Loyola,espanhol, figura de grande dimensão espiritual e humana, pronuncia emMontmartre (Paris) votos de pobreza e castidade, formando um novo institutoreligioso, a Companhia de Jesus. Mais tarde, em Roma, submetem-se ao serviçoda Santa Sé. O papa Paulo III aprova a nova Ordem em 1540, mediante aapresentação por Inácio do esboço de uma regra, designada Formula Instituti.
O lema da nova congregação é "defender e proteger a fé", visando-se oprogresso espiritual dos fiéis. Para isso acentua-se o apostolado sacerdotal,caracterizado por uma grande mobilidade e capacidade de adaptação dos seusmembros às contingências do mundo exterior. Para além dos três votos solenes(pobreza, castidade e obediência), alguns jesuítas pronunciam um quarto, o deobediência especial ao papa como chefe da Igreja e vigário de Cristo. Com umahierarquia centralizadora, a Ordem é governada por um prepósito geral (cargomáximo dos jesuítas), eleito pela Congregação Geral, única e plena autoridadelegislativa. A estrutura da Companhia é composta por noviços, coadjutoresespirituais e professos.A defesa da reforma católica por teólogos jesuítas noConcílio de Trento (1545-1563) demonstra bem o contexto da época em quenasceu a Companhia de Jesus: a Contrarreforma católica em oposição àReforma Protestante encetada por Lutero em 1527. Combater a Reforma eformar teólogos e padres capazes de combater as novas adversidades do séculoXVI são alguns objetivos que norteiam a aprovação papal das propostas de Sto.Inácio. Canisius e Acquaviva são alguns dos grandes nomes jesuítas dessestempos conturbados. A Companhia consegue também delinear umaespiritualidade própria, com a contemplação no mesmo plano que a meditação, apar do exame de consciência. Criam-se, ao mesmo tempo, por toda a Europa eÍndia, estabelecimentos pedagógicos da Ordem, gratuitos no início, direcionadosquer para a formação do clero quer para a educação e apostolado dos jovens.Em 1600, contavam-se já 245 colégios; 444 em 1626.A tarefa missionária dosJesuítas é deveras importante, tal como o combate à Reforma Protestante e areforma e instrução do clero. Várias missões são empreendidas pela Companhiaem toda a América, especialmente nas colónias espanholas, no Brasil, e noCanadá francês (onde sucede o martírio de S. João Brébeuf em 1649). NaAmérica Latina, face à brutalidade dos colonos sobre os Índios e à constantemobilidade das populações, os Jesuítas concebem as chamadas reduções, áreasonde os nativos eram agrupados sem qualquer sujeição à apropriação por partedos colonos. Os Jesuítas davam-lhes formação religiosa e instalavam-nos emaldeias geridas por um sistema comunitário no qual os Índios participavam. Amaior delas, a República dos Guaranis, fundada em 1609 no Paraguai, durou 150anos até ser destruída pelos colonos. Também na China os missionários M.Ruggieri (1543-1607) e Matteo Ricci (1522-1560) enraizaram um Cristianismoadaptado às tradições e cultura locais, experiência lúcida que contudo originoualgumas discussões na Companhia de Jesus, acerca, por exemplo, dacristianização do culto chinês dos antepassados.Também em Portugal, enomeadamente na missionação, os Jesuítas desempenharam um papel de relevodesde a sua instalação em Lisboa em 1540. Tendo sido Portugal a sua primeiraprovíncia e um dos balões de ensaio para a experiência apostólica daCompanhia, rapidamente se radicaram e cresceram entre nós os Jesuítas, querno continente quer no ultramar. Em 1600 eram mais de 600, com umauniversidade, colégios, hospitais, seminários e asilos por todo o País, com osseus membros rodeando as mais altas figuras da Nação, sobre os quais exerciamenorme influência. O seu projeto e métodos de educação e ensino dominavamquase todo o ensino normal em Portugal. Combatiam também as heresias e oscristãos-novos, aliando-se a princípio à Inquisição e ao clero secular. Atingiramgrande poderio e riqueza.Na Índia e no Brasil empreenderam um esforço demissionação notável, assumindo-se como grandes difusores da culturaportuguesa e da nossa língua, para além da obra apostólica e artística. S.Francisco Xavier, José de Anchieta, Pe. António Vieira, Manuel da Nóbrega, paraalém de muitos outros, missionários e exploradores, são algumas das figurascimeiras dos Jesuítas em Portugal.O século XVII é marcado, na história daCompanhia, por tentativas de reforma tendentes sobretudo a suprimir ocarácter hierárquico da estrutura e o governo vitalício. Intrigas e cabalas sãotentadas, com o papa a resolver as contendas. Tudo isto demonstra avitalidade e o poder atingidos pela Ordem ao fim de um século de vida. Passadaesta fase agitada, a Ordem conhece um desenvolvimento e expansão vigorosos.
Porém, o advento do Iluminismo, com as suas exigências racionalistas e aimplantação de uma noção de Estado, origina mudanças de fundo na Companhiade Jesus. O seu sucesso e elevado número de colégios constitui, aos olhos dosseus velhos inimigos, um grande obstáculo à difusão dos ideais iluministas e das"luzes" da Razão. Simultaneamente, fortes tensões desencadeiam-se no seio da Ordem, com a sua divisão em várias sensibilidades, o que dificulta a sua defesadas ofensivas do exterior, a cair já num plano político, com difamações eataques violentos. A forte ligação dos Jesuítas ao papa constitui um dos alvospreferenciais dos enciclopedistas e filósofos nos ataques à Companhia. Neste clima agressivo, a Companhia mantém a sua atividade cultural e educacional, a par do apostolado. O grande monumento de erudição hagiográfica - as Ata Sanctorum - é publicado em 1643 por Jean Bolland. Contudo, o século XVIII constitui o cenário de uma maior amplitude e gravidade no conflito entre osJesuítas e o mundo intelectual da época. Começam, então, as expulsões da Companhia em vários países, cada vez mais influenciados por governantes"esclarecidos" (homens das "Luzes"). A primeira de todas ocorre em Portugal, em1759, culminando uma perseguição por parte do Marquês de Pombal. Luís XV,em França, em 1764, condena a Ordem como "contrária ao direito natural". Em 1767, são expulsos de Espanha por Aranda, ministro de Carlos III. O golpe finalserá dado pelo papa Clemente XIV, que suprime a Companhia, em 1773, daIgreja Católica. Porém, alguns conseguem refugiar-se na Rússia, apoiados por Catarina II, mantendo viva a chama do projeto de Sto. Inácio de Loyola. Daí seespalham novamente pelo mundo a partir de 1814, quando o papa Pio VII restaura a Companhia. De 600 membros nessa data, o seu número nunca maispara de crescer, tornando-a na maior Ordem religiosa católica (36 000 em1974), mau grado outras perseguições de que é alvo, como em França (1905),no México, na Alemanha (nas Guerras Mundiais) e na Espanha (na GuerraCivil).Em 1833 as missões são reiniciadas, graças ao vigor do prepósito geralRoothaan, partindo da Europa para as regiões missionárias tradicionais,adaptando-se, vigilantemente, às condições locais. A América foi uma dasregiões privilegiadas, uma vez mais, como também a Índia e o Extremo Oriente,regiões donde provêm, atualmente, muitos dos efetivos da Companhia, queconta atualmente cerca de 24 000 em mais de 120 países.
Portugal é um desses países, o mais antigo mesmo, pois foi entre nós que sefundou a primeira província (1546) da Companhia e um dos seus primeiroscolégios (Colégio de Sto. Antão, em Lisboa), para além de um dos companheirosmais chegados de Sto. Inácio ser português, o Pe. Simão Rodrigues. Aqui seescreveram também muitas das páginas mais importantes da história dosJesuítas, para além da contribuição, entre outras, por eles dada para aarquitetura portuguesa (como noutros países do sul da Europa), nomeadamenteno que concerne ao denominado "estilo jesuítico", expressão própria do barroco,que eles ajudaram a difundir. A Companhia foi restaurada em Portugal no séculoXIX pelo Pe. Carlos J. Rademaker, no Colégio de Campolide.

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