Em 1948, Alexandre O'Neill, juntamente com Mário Cesariny, António Pedro, Vespeiro e José Augusto França, lançam se na aventura do surrealismo. Este movimento, fruto da sua época, surgia como provocação ao regime político vigente, e à poesia neo realista.
Em 1950 O'Neill decide se pelo abandono polémico do Movimento Surrealista, expressando desta forma o seu desagrado pelo rumo simulado e decadente em que o surrealismo mergulhara. O poeta nunca foi muito de regimentos, e o surrealismo tinha algo de disciplina ideológica. Contudo, a sua poesia conservou traços surrealistas.
Colabora ainda com " Os Dissidentes " numa exposição.
O'Neill, à semelhança de muitos artistas portugueses não pôde viver da sua arte. Afirmava "viver de versos e sobreviver da publicidade".
A publicidade foi a maneira menos trabalhosa de ganhar o sustento que Alexandre O'Neill encontrou. Esta é uma área que requer destreza e à vontade com as palavras, e nesse campo o Poeta sentia se como peixe na água. Porém, Alexandre não criou nenhum vínculo afectivo com esta profissão. Criou algumas frases publcitárias que ficaram na memória, como "Boch é Bom" e esse outro slogan, que é já provérbio, "Há mar e mar, há ir e voltar". A publicidade deu lhe o conforto económico de que necessitava, mas sempre que se enfastiava mudava de patrão e agência publicitária!
Vasto foi o seu currículo, onde constam diversas colaborações para jornais, revistas e televisão.
Fez da pátria o seu tema mais constante, e do verso crítico o pincel com que pintou paisagens, gestos e costumes quotidianos.
Transbordante de sonhos, sedento de realidades submersas, foi em vida, e é em morte, incompreendido e votado ao esquecimento. Esse terá sido o preço que pagou por se ter recusado diluir numa qualquer poesia do populismo fácil.
Faleceu em 1986.
Biografia:
"A Ampola Miraculosa", Cadernos Surrealistas, 1948
"Tempo de Fantasmas", Cadernos de Poesia, Lisboa, 1951
"No Reino da Dinamarca", Guimarães, Lisboa, 1958
"Abandono Vigiado", Guimarães, Lisboa,1960
"Poemas com Endereço", Morais, Lisboa, 1962
"Feira Cabisbaixa", Ulisseia, Lisboa, 1965
"Portogallo mio rimorso", Einaudi, Torino, 1966
"De Ombro na Ombreira", Dom Quixote, Lisboa, 1969
"As Andorinhas não têm Restaurante", Dom Quixote, Lisboa, 1970
"Jovens, Nova Fronteira", Futura, Lisboa, 1971
"Entre a Cortina e a Vidraça", Estúdios Cor, Lisboa, 1972
"A Saca de Orelhas", Sá da Costa, Lisboa, 1979
"As Horas já de Números Vestidas", 1981
"Dezanove Poemas", 1983
"Uma Coisa em Forma de Assim", Presença, Lisboa, 1985
Gaivota
Amália Rodrigues
Composição: Alexandre O'Neill / Alain Oulman
Se uma gaivota viesse
Trazer-me o céu de lisboa
No desenho que fizesse,
Nesse céu onde o olhar
É uma asa que não voa,
Esmorece e cai no mar.
Que perfeito coração
No meu peito bateria,
Meu amor na tua mão,
Nessa mão onde cabia
Perfeito o meu coração.
Se um português marinheiro,
Dos sete mares andarilho,
Fosse quem sabe o primeiro
A contar-me o que inventasse,
Se um olhar de novo brilho
No meu olhar se enlaçasse.
Que perfeito coração
No meu peito bateria,
Meu amor na tua mão,
Nessa mão onde cabia
Perfeito o meu coração.
Se ao dizer adeus à vida
As aves todas do céu,
Me dessem na despedida
O teu olhar derradeiro,
Esse olhar que era só teu,
Amor que foste o primeiro.
Que perfeito coração
Morreria no meu peito,
Meu amor na tua mão,
Nessa mão onde perfeito
Bateu o meu coração.
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