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domingo, 21 de abril de 2013

CASA DO DOURO: ESTADO COSPE NO PRATO ONDE COMEU ANOS A FIO



CASA DO DOURO: ESTADO COSPE NO PRATO ONDE COMEU ANOS A FIO (PARTILHA D`OURO - IMPRENSA REGIONAL)

- A situação da Casa do Douro é desesperada. Remata-se assim a fase final de uma estratégia concertada com os interesses do Comércio e das grandes empresas, que vem sendo seguida por sucessivos Governos.

- A seguir na lista, para abater, estão as pequenas empresas produtoras-engarrafadoras. Não tenham dúvidas: o Douro caminha para a monopolização de toda a sua actividade, desde a produção à comercialização)

- Já não restam dúvidas de que este Governo, no rasto do que os anteriores fizeram, pretende acabar de vez com a Casa do Douro. As evidências da má vontade são claras, e a estratégia não deixa dúvidas: cercar a Casa do Douro e asfixiá-la num processo lento que conduzirá à sua extinção, com o mínimo de danos para o Governo.

- Para a política liberalista e assente nos princípios mais selváticos de um capitalismo de índole monopolista e fascizante, que faz escola por essas universidades parideiras dos gestores que destruíram a Economia mundial, a Casa do Douro é um perigo potencial.

- De facto, uma instituição que já agregou 40.000 associados, produtores de raiz, é uma ameaça para quem pretende fazer do Douro um campo negocial sem lei e de capital concentrado em meia dúzia de mãos. Esta intenção não é de hoje, pois foi sempre uma aspiração, quer do Comércio, quer das grandes empresas vinícolas, aliadas por interesses comuns que partilham.

- Mas o que é mais injusto nesta triste história, é o facto de, sendo a região duriense a mais rica do país e aquela que mais contribui com impostos, e onde o Estado, ao longo de décadas sucessivas, cá veio banquetear-se com grandes quantias provenientes de taxas e impostos, ser agora aquela que mais penalizada é, ao ponto de se pretender entregá-la nas mãos de alguns, mesmo sabendo o Estado que será altamente penalizado nas receitas fiscais.

- Sejamos claros: as receitas fiscais provenientes da actividade do Douro, e que eram pagas pelo universo dos seus lavradores, dificilmente era falsificável, porque se tratava de pequenas empresas. Mas agora tudo mudará, sabendo como se sabe o que acontece com a contabilidade das empresas de grande dimensão, onde as contas se podem mascarar com quantos Carnavais se quiserem.

- A Casa do Douro tem sido vítima dos maiores roubos, a começar pelo seu cadastro, entregue à elite burocrática, politicamente subserviente e cúmplice das gananciosas intenções do Comércio, que se chama IVDP que, para além de se apropriar abusivamente do cadastro, ainda por cima não paga as prestações que foram acertadas para ressarcir a Casa do Douro desta perda.

- Mas se isto não bastasse, a perda de competências que sucessivas legislações foram cirurgicamente retirando à Casa do Douro, desmotivaram os seus associados que, perante uma casa que os representa mas que não detém os poderes que a fizeram forte, também vão deixando de pagar quotas. Some-se a este rol de apertos, a impossibilidade prática da Casa do Douro comercializar os seus vinhos, e está o quadro do cerco completo.

- No fundo, o que está em causa é tão-somente isto: não interesse ao Comércio e às grandes empresas, uma Casa do Douro que agregue o poderio de 40.000 lavradores unidos a uma só voz. E vou mais longe: mesmo os pequenos produtores-engarrafadores que, nos últimos anos, têm assumido um papel importante na nova moldura produtiva do Douro, estão condenados a serem absorvidos pela onda gigante que, depois de “tratar” da Casa do Douro, tratará de os asfixiar também. Na linha de destruição da produção plurinuclear, característica da região duriense, integra-se também o universo desses produtores-engarrafadores, que vivem agora uma paz consentida, uma espécie de folga traiçoeira que logo se transformará numa assanhada perseguição a partir do momento em que a Casa do Douro caia.

- Espanta-nos também, que o modelo que vingava, fruto do trabalho de gerações, que conseguiu um equilíbrio entre as partes envolvidas em todo o processo que a actividade vitivinícola exige, desde a produção da uva ao cálice, consubstanciada na concertação profissional, e que foi motor de desenvolvimento regional, de garantia do mundo paisagístico, das tradições, e, muito especialmente, do equilíbrio financeiro que permitiu que a região tivesse um substrato social permanente e sólido, que esse modelo que vingava (dizia eu) seja agora substituído por monopólios que escorraçarão a população agrícola duriense, e a substituirão por mão de obra barata e sazonal oriunda de quantos Lestes e Terceiros Mundos por aí há.

- E aqui fica também o aviso às autarquias durienses: a destruição da Casa do Douro, a sua perda de influência e poder, ocasionará mais desertificação. As autarquias locais, que tanto se queixam dessa mesma desertificação, da falta de emprego, da inexistência de indústrias, deveriam pôr os olhos neste assunto, o mundo rural, e lutar para que esse mesmo mundo rural, e que é, ao fim e ao cabo, a única realidade palpável que têm, e lutassem para protegê-lo.

- A Casa do Douro está em estertor, esperando há 18 infindáveis meses que o Governo apresente uma proposta para a Casa do Douro. Proposta que nunca parecerá, ou não fosse Passos Coelho (sabe-se lá porque carga de odiosinhos) um inimigo inexplicável da sua própria terra. Por cá não pregou prego nem estopa e, antes pelo contrário, tem a caneta dos despachos apontada à região como um machado de carrasco.

- O Estado, comeu anos a fio, décadas, do prato farto do Douro. Aqui veio colher grandes receitas de impostos que, muitas das vezes, lhe salvaram o barco do desgoverno. O Estado habituou-se a esta teta, de tal maneira que a tinha anualmente como certa e segura.
Agora, cospe no prato onde comeu.

- E isto, meus caros leitores, não é de um Estado sério, mas sim dum Estado que não se encontra ao serviço do povo, dos cidadãos, do tecido económico que é a força do país, mas de meia dúzia de gananciosos que querem para si o que é de todos.

Por Francisco Goiveia, Eng.º
gouveiafrancisco@hotmail.com

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