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sábado, 1 de junho de 2013

“Discurso sobre o filho-da-puta”

“Discurso sobre o filho-da-puta”


 «Estimados Compatriotas:


Acerca do filho-da-puta, como acerca de muitas outras coisas, correm neste país as mais variadas lendas. Há até quem seja de opinião de que o filho-da-puta a bem-dizer nunca existiu, dado que ele é apenas um modo de mal-dizer. Nada, porém, mais falso. É certo que o filho-da-puta às vezes não passa de um modo de dizer, mas não bastará a simples existência, particular e pública, de tão variados retratos seus, para arrumar com as dúvidas acerca da sua existência real? Pois quem teria imaginação suficiente para inventar tantas e tais variedades de filho-da-puta, caso ele não existisse? Não! O filho-da-puta existe. Em todos os lugares, excepto no dicionário. No dicionário existem variados filhos, entre eles o filho-família, o filhastro e o filhote, mas não existe o filho-da-puta. Em compensação, o filho-da-puta existe em todos os outros lugares. Claro que há lugares que ele de preferência ocupa e onde por conseguinte é mais frequente encontrá-lo; no entanto, exceptuando, como ficou dito, o dicionário, não há lugar onde, procurando bem, não se encontre pelo menos um filho-da-puta. Porque
o filho-da-puta existe e está praticamente em toda a parte: na escola e nas repartições, na indústria e no comércio, na cidade e nas serras, na rua e nas casas, e até nos cemitérios. Deste (exceptuando casos antigos ainda hoje falados, ou então muito recentes que deram que falar) pouco se sabe, como é natural. Desgraçadamente, porém, o mesmo sucede com muitos dos outros filhos-da-puta, e é isso mesmo que eu considero uma triste lacuna no nosso saber. Em grande parte dos casos, não se sabe deles mais que o que se sabe dos anjos, ou seja: que são seres de eleição que estão em toda a parte, mas que só por obras revelam a sua existência, a seres igualmente de eleição. É certo e sabido que filhos-da-puta menos sabidos não desgostam de se revelar; ainda neste caso, porém, não é fácil reconhecê-los, pois o filho-da-puta nem sempre usa sinais distintivos e 
de resto, há filhos-da-puta que vestem bem e outros que vestem mal, filhos-da-puta garridos e filhos-da-puta soturnos, de uniforme e à paisana, de saias e de calças, de barba e sem barba, de bata branca e de bota preta. Nem sequer é fácil saber com segurança se o filho-da-puta tem predilecção por este ou por aquele traje: é certo que ele se mostra mais nuns que noutros, mas usa sempre o seu traje como a arquitectura de uma tragédia; para ele o nu é o ultraje, e por isso é que o filho-da-puta faz o o traje, embora o traje não faça o filho-da-puta.»

(…)
Discurso sobre o filho-da-putaAlberto Pimenta (Ed. Teorema)


A deputada Ana Drago defende o projeto de lei do Bloco que "estabelece as condições de salvaguarda dos monopólios naturais no domínio público do Estado" e o projeto de resolução que "recomenda ao Governo a suspensão do processo de privatização dos CTT, manutenção da empresa no Estado e o reforço das suas competências". |31-05-2013|

“Discurso sobre o filho-da-puta”


Há situações que não devemos deixar passar impunes. Estava a jantar quando vi, no noticiário da TV, as declarações de um tipo atacando o Estado. Afirmava ele, categoricamente, que o Estado é mau gestor, que prejudica os cidadãos, etc, aquele discurso típico da treta. Sempre que ouço alguém dizer uma merda destas, penso logo: aposto que este gajo vive/viveu sempre à custa do Estado. Foda-se, às vezes, gostava de errar mais vezes. Gostava de não ter tantas vezes razão. Gostava de poder dizer, pronto, desta vez enganei-me. Mas a realidade insiste em dar-me razão. Depois de ter visto as declarações do cara-de-tacho, ligo o computador para ler as verdadeiras notícias e deparo-me com estas palavras da Ana Drago que não passaram no noticiário que referi ali atrás. E não é que o filho-da-puta (peço desculpa, mas não encontro outra expressão para designar aquele filho-da-puta) vive mesmo à custa do Estado que tanto critica?! Pior, foi o administrador da empresa que agora critica de má gestão. Ora, aqui está um caso inequívoco de má-fé, de gestão danosa. Não há processo-crime? O filho-da-puta foi colocado na empresa com um objectivo: destruir essa mesma empresa do Estado para depois poder afirmar que o Estado é mau gestor. O Alberto Pimenta pensou nesta “gente” quando escreveu o “Discurso sobre o Filho-da-Puta“.

Ontem um jornalista perguntou ao presidente do Real Madrid: “O Mourinho saiu do clube devido à enorme pressão da imprensa?” A resposta foi: “Se a imprensa quiser e tiver um plano bem orquestrado consegue derrubar o presidente dos EUA.” Por aqui também assistimos diariamente a uma manipulação constante da sociedade pela Media portugueses. Se o Goebbels fosse vivo era Deus na Totolândia.

Seria interessante que este vídeo fosse largamente partilhado para que, pelo menos, aquele filho-da-puta nunca, mas mesmo nunca, mais ponha os pés numa empresa pública. Já que alguma imprensa/media não cumpre o seu papel, temos de ser nós, os cidadãos, a fazê-lo.

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