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domingo, 16 de junho de 2013

Resinagem e resineiros

Foto: Resinagem, Várzea, Calde, Viseu

Fotografia: Pedro G Oliveira



sangria (3)



Transporte de resina - anos 30 de séc. XX



Embora a colheita de resina ainda hoje continue nalguns locais, atingiu o ponto máximo entre 1920 e 1970. É difícil obter uma ideia da indústria que existia antes de 1920 mas sabemos que o maior aumento de produção de resina aconteceu aquando da criação do Pinhal Interior Norte. Esta área florestada foi sistematicamente plantada com pinheiros-bravos (Pinus pinaster) entre 1900 e 1950.
A resina do pinheiro é um líquido viscoso que é excretado pelo pinheiro para selar e proteger qualquer ferida no pinheiro. É de uma cor amarelo acastanhado e no contacto com o ar torna-se duro e forma uma crosta quebradiça e pegajosa. Resina fossilizada é conhecida como âmbar e é considerada uma pedra semi-preciosa.
A resina é principalmente utilizada para a produção de aguarrás e pês. A aguarrás é utilizada para diluir e dissolver tintas e vernizes, em graxa de sapato e lacre. É também juntada a muitos produtos de limpeza devido as suas propriedades anti-sépticas e o seu perfume a pinheiro. O pês é utilizado em cola de papel e na fabricação de sabão, vernizes e tintas e talvez a utilização mais conhecida seja para os arcos de instrumentos musicais de corda como o violino. A vulgar resina de pinheiro era no passado utilizada nas embarcações de vela para as impermeabilizar. Também tem propriedades medicinais: sabe-se que é anti -patogénica (isto é a função principal para o pinheiro) e foi durante anos utilizada para esfoladelas e feridas, como tratamento contra piolhos, misturada com gordura animal para massajar no peito, ou para inalar contra doenças nasais e de garganta. No passado era aplicada em cubos de açúcar ou em mel como tratamento contra parasitas intestinais e remédio geral para tudo. É também um estimulante, um diurético, um adstringente e um anti-espasmódico. (Porém deve-se tomar em conta que o seu vapor pode queimar a pele e os olhos, prejudicar os pulmões e o sistema nervoso central quando inalada e causa insuficiências renais quando ingerida).
Um pinheiro de tamanho médio pode produzir 3-4kg de resina por ano. Os pinheiros produzem a melhor qualidade de resina quando estão em crescimento, por isso, o volume da colheita desce entre Abril e Setembro.
Os resineiros removiam parte da casca na base do pinheiro, colocavam peças de metal no pinheiro para direccionar o fluxo da resina para os cacos da resina ( de barro e mais tarde de plástico). Depois apanhavam a resina com uma colher para um caneco ou gamela.
Depois de rasparem a resina endurecida e cristalizada, a área era coberta com uma solução de ácido que estimulava a sangra da resina. Em cada ano era feito mais uma bica mais acima no tronco do pinheiro A resina era armazenada em velhas barricas de madeira colocadas estrategicamente nas estradas dos pinhais.
A resina era despejada na ‘barca’ (grande depósito de resina). O processo passava pelo aquecimento da resina até ao estado líquido e a filtração de todas as partículas de impureza do material. Antigamente, a resina era aquecida através de um fogo aberto, numa grande caldeira selada com uma serpentina de condensação, muito parecido com um alambique de aguardente. A aguarrás condensa, deixando o pês líquido no fundo da caldeira de destilação. O pês produzido desta forma tem uma cor vermelho acastanhado. Modernas técnicas de destilação utilizam vapor e produzem um pês de uma qualidade muito superior de cor amarelo dourado. Após a separação da aguarrás e do pês, o pês líquido é deitado em tabuleiros metálicos para arrefecer e endurecer. Quando está duro, é manualmente partido com um bastão de madeira em peças pequenas, que a seguir são ensacados e estão agora prontas para a distribuição.
 É um facto que florestas com activa produção de resina tinham uma menor incidência de fogos florestais, provavelmente porque a comunidade estava mais próxima e envolvida na exploração e conservação dos pinhais.
A resina proveniente de Portugal e outros países mediterrâneos é considerada ser de uma qualidade de topo, mas devido aos custos de mão-de-obra, a produção mudou-se durante as últimas décadas para países em vias de desenvolvimento.


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