A literatura e a lenda iriam fazer uso do personagem e torná-lo célebre sob o epíteto de "O Homem da Máscara de Ferro", já que ninguém havia jamais podido ver o seu rosto, coberto sempre por uma máscara de veludo negro, e não de ferro.
Este homem, de presumivelmente 50 anos, teria vivido em cativeiro durante duas ou três décadas, primeiro em Pignerol, uma fortaleza alpina situada entre Briançon e Turim, até 1681. Havia sido trasferido sucessivamente do forte de Exiles, no Piemonte até 1687; Sainte-Marguerite de Lérins até 1698, e, por fim, a Bastilha, sempre sob a vigilância do mesmo carcereiro, Bénigne Dauvergne, conhecido como Senhor de Saint-Mars, antigo mosqueteiro.
Oito anos após sua morte, a princesa Palatine, cunhada do rei da França, faz com que este homem saia do anonimato, apresentando-o na sua correspondência como um lorde inglês que havia conspirado contra a França.
A sua identidade não tardou a suscitar diversas hipóteses. Seria ele o irmão gémeo de Luis XIV, como pretendeu Voltaire? Ou o filho adúltero de Ana da Áustria e do duque de Buckingham? Seria ele, como outros acreditavam, o duque de Beaufort ? Ou um bastardo do rei Carlos II de Inglaterra? O conde de Vermandois ? O ex-superintendente Fouquet?
Com o seu habitual talento, Alexandre Dumas revive a lenda em "O Visconde de Bragelonne" levantando a hipótese dele ser irmão gémeo de Luis XIV, nascido oito horas após este último.
Em "A Máscara de Ferro", o historiador Jean-Christian Petitfils evoca a hipótese de se tratar de um certo Eustache Danger, serviçal da corte, posto a par do segredo e prometendo não desvelar a conversão secreta do rei Carlos II ao catolicismo.
A maioria dos historiadores estão hoje de acordo em reconhecer no "Máscara de Ferro" um agente duplo, o conde Ercole Mattioli ou Antoine-Hercule Matthioli, apoiando-se numa carta datada de 1770, assinada por um certo barão Heiss.
Secretário de Estado do duque de Mantova, Carlo IV de Gonzaga, traíra o seu chefe assim como o rei da França, revelando aos espanhóis as negociações secretas relativas à aquisição pela França da praça-forte de Casal. Luis XIV enviou-o então a Veneza para prendê-lo em 1669, cuidando todavia que vivesse sempre cercado de confortáveis privilégios.
Não estaria excluído, porém, que um doméstico, tentado por esta vida de ser tratado como um rei, possa ter pretendido tomar o lugar do conde e permitido ao mesmo retomar a plena liberdade sem que ninguém percebesse.
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