Nasceu em Coimbra no dia 1 de Fevereiro de 1937.
Licenciado em Filologia Germânica pela Universidade de Coimbra, foi poeta, ficcionista, jornalista e crítico. O avô paterno foi redactor da revista Vértice, circunstância que lhe permitiu privar de perto com Joaquim Namorado e outros poetas da sua geração como Manuel Alegre e José Carlos de Vasconcelos.
Publicou o primeiro livro de poesia em Coimbra, em 1963: “Cuidar dos Vivos”, poesia de intervenção política, de luta contra a guerra colonial. O seu segundo livro de poesia “Câu Kiên: Um Resumo” (título vietnamita para escapar à censura fascista), foi publicado em 1972, mas conheceria a sua versão definitiva em “Katalabanza, Kiolo e Volta”, em 1976. No mesmo ano publicou “Siquer este refúgio”, também de poesia.
Em 1978 publicou o livro de novelas “Walt ou o frio e o quente” e em 1980 “Memórias do Contencioso e outros poemas” que reuniu poemas publicados entre 1972 e 1980.
Em 1987, mais um livro de poesia: “Variações em Sousa”. E outro em 1991: “A Musa Irregular”, onde reuniu toda a sua produção de poeta até esta data.
Estreou-se no romance com “Trabalhos e paixões de Benito Prada: galego da província de Ourense, que veio a Portugal ganhar a vida” em 1993.
Morreu em Lisboa, com 58 anos, à porta da Livraria Bucholz em 1995.
Em 2001 as Edições Asa publicaram “Retratos falados”, em 2003 a Assírio & Alvim publicou “Respiração assistida” com organização de Abel Barros Baptista e Posfácio de Manuel Gusmão (alguns dos poemas deste livro eram inéditos e estavam numa pasta em que Fernando Assis Pacheco reunia a produção para o livro que pretendia publicar depois da saída de "A Musa Irregular") e em 2005 a Assírio & Alvim publicou “Memórias de um craque” (colectânea de textos sobre futebol).
Nunca conheceu outra profissão que não fosse o jornalismo. Deixou a sua marca no Diário de Lisboa, na República e no JL: Jornal de Letras, Artes e Ideias. Foi chefe de Redacção de O Jornal, semanário onde durante dez anos exerceu crítica literária. Colaborou também no República, n'O Jornal, no Se7e e na revista Visão. Traduziu para português obras de Pablo Neruda e Gabriel Garcia Marquez.
O papel dos testículos na vida sexual de um homem
Na verdade, a vida é finita, e por mais ajuda de Viagra, o fim chegará. Aí resta a memória, e felizes os homens que possam lembrar para si algo parecido com o que este soneto/homenagem de Fernando Assis Pacheco (1937-1995) deixa transparecer.
Pus-vos a mão um dia sem saber
que tão robusta e certa artilharia
iria pelos anos fora ser
sinal também de lêveda alegria
que tão robusta e certa artilharia
iria pelos anos fora ser
sinal também de lêveda alegria
amigos meus colhões quanto prazer
veio até mim em vossa companhia
a hora que tiver já de morrer
morra feliz por tanta cortesia
veio até mim em vossa companhia
a hora que tiver já de morrer
morra feliz por tanta cortesia
adeus irmãos é tempo de ceder
à dura lei que manda arrefecer
o fogo leviano em que eu ardia
à dura lei que manda arrefecer
o fogo leviano em que eu ardia
camaradas leais do bem foder
o brio a fleuma cumpre agradecer
sem vós teria sido uma agonia
o brio a fleuma cumpre agradecer
sem vós teria sido uma agonia
Lisboa
29-XI-94, 23-XII-94
29-XI-94, 23-XII-94
Soneto publicado no livro Respiração Assistida, edição Assírio & Alvim, Lisboa, 2003.
AS PUTAS DA AVENIDA
A cidade transformou-se e a avenida da Liberdade já não é o que era quandoFernando Assis Pacheco (1937-1995) escreveu o soneto As putas da Avenida.
Hoje percorre a avenida o luxo da alta costura e das marcas com que o dinheiro se perfuma, escondendo os cheiros da sua origem. Mas as artérias não se libertam tão facilmente da vida que durante anos a elas se agarrou e, avançada a noite, regressam os ecos deste passado contado com mão de mestre na concisão do soneto.
AS PUTAS DA AVENIDA
Eu vi gelar as putas da Avenida
ao griso da Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena
ao griso da Janeiro e tive pena
do que elas chamam em jargão a vida
com um requebro triste de açucena
vi-as às duas e às três falando
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo a voz de mando
do director fatal que lhes ordena
como se fala antes de entrar em cena
o gesto já compondo a voz de mando
do director fatal que lhes ordena
essa pose de flor recém-cortada
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios da Lorena
que para as mais batidas não é nada
senão fingirem lírios da Lorena
mas a todas o griso ia aturdindo
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena
e eu que do trabalho vinha vindo
calçando as luvas senti tanta pena
Este soneto de Fernando Assis Pacheco encontra-se no livro Variações em Sousa de 1987, republicado em A Musa Irregular, 3ªedição com as correcções do autor, por Assírio & Alvim, Lisboa, 2006.
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