Marcha da Morte de Bataan é o nome como ficou conhecido um dos maiores crimes de guerra da Segunda Guerra Mundial, ocorrido no início da Guerra do Pacífico, contra prisioneiros norte-americanos e filipinos derrotados pelas forças japonesas após a Batalha de Bataan, nas Filipinas, ocorrida entre dezembro de 1941 e abril de 1942.
Em 9 de abril de 1942, cerca de 75 000 soldados norte-americanos e filipinos renderam-se em Bataan ao 14.° Exército japonês, formado por 50 000 soldados e comandado pelo tenente-general Masaharu Homma.
Como o número de tropas japonesas superava o das tropas norte-americanas e filipinas, o Japão esperava que a batalha perdurasse mais tempo.
Mas tal não veio a verificar-se.
As tropas japonesas admitiam que o número de prisioneiros de guerra rendidos fosse de cerca de 25 000 e não estavam preparados nem em estrutura nem em contingente para fiscalizar o elevado número de soldados capturados.
O planeamento da transferência dos prisioneiros de Bataan para o campo de prisioneiros O’Donell, na província vizinha de Tarlac, ficou a cargo dos oficiais do Exército de do tenente-general Homma, enquanto as tropas japonesas preparavam o assalto final às forças que defendiam o resto das Filipinas.
A primeira fase desta operação consistia em juntar todos os prisioneiros nas Montanhas Mariveles até à capital da península de Bataan, Balanga City, num percurso a pé de cerca de 30 quilómetros, que se esperava que ficasse concluído num dia.
Dali, os prisioneiros seriam transportados em 200 camiões por mais 50 quilómetros até à estação de San Fernando, de onde seriam transportados em comboios por mais 50 quilómetros até à vila de Capas, a 8 quilómetros do destino final, para onde marchariam a pé.
Hospitais de campanha e pontos de descanso deveriam ser preparados ao longo do percurso.
Apesar de o tenente-general Homma esperar apenas 25 000 prisioneiros após a rendição de Bataan, ficou surpreendido com o numero elevadíssimo de mais de 75 000 soldados (66 000 filipinos e 11 000 norte-americanos) esfomeados, sedentos e atacados pela malária.
Durante a batalha, apenas 27 000 destes homens estavam registados como “combatentes efetivos” e três quartos deles estavam infetados com malária.
Em resultado da situação encontrada, os japoneses tiveram grandes dificuldades em transportá-los desde o início.
A etapa inicial de 30 quilómetros a pé até Balanga City, planeada para ser realizada num dia, passou para três dias.
A distribuição de alimentos era escassa e a maior parte dos prisioneiros nem chegou a comer.
Quatro mil feridos e doentes tiveram de ser deixados para trás a fim de serem tratados em Bataan pelos japoneses por não terem condições de caminhar.
A diminuição de provisões e de homens entre os invasores, que nesse momento ainda lutavam para tomar Corregedor, causou irritação entre os soldados encarregados da guarda dos prisioneiros e muitos dos prisioneiros conseguiram fugir, pois, pela limitação de recursos humanos, um máximo de quatro guardas armados acompanhava cada grupo de 300 prisioneiros.
Ao chegar à capital Balanga, ficou claro que os camiões não poderiam transportar nem metade do número de prisioneiros e aqueles que não conseguiram lugar nos veículos tiveram de marchar a pé por mais 50 quilómetros até à estação de San Fernando, sob um sol escaldante, sem zonas de sombra e caminhos de terra batida e por vezes também seguindo percursos em estradas alcatroadas.
A poeira fina que se levantava no ar causava dificuldade em respirar e de ver e o asfalto quente queimava os pés dos prisioneiros descalços.
Os prisioneiros que se recusavam a abandonar os seus pertences eram os primeiros a tombar de exaustão.
Os últimos 9 quilómetros de marcha forçada até San Fernando foram os mais duros que os prisioneiros tiveram de enfrentar.
Aqueles que conseguiram chegar à estação de comboios foram trancados em prisões improvisadas onde finalmente tiveram direito a comida, água e a alguns cuidados médicos.
Em seguida, foram todos colocados dentro de comboios apertados que os levou até Canpas.
Durante a viagem de três horas, centenas de prisioneiros vomitaram e sofreram ataques de disenteria e muitos sufocaram fatalmente no seu próprio vómito.
Os que chegaram a Capas vivos ainda foram obrigados a marchar por 12 quilómetros até ao campo O'Donnell.
Durante nove dias, a maior parte dos prisioneiros filipinos e americanos doentes e feridos foram forçados a marchar mais de dois terços da distância de 150 quilómetros entre Bataan e o campo O'Donnell.
Aqueles que tiveram a sorte de serem transportados nos camiões até San Fernando, tiveram de marchar 40 quilómetros até ao campo.
Durante o percurso os prisioneiros eram frequentemente espancados e negavam-lhes a comida e a água que lhes haviam prometido.
Aqueles que ficavam para trás eram executados ou deixados à sua sorte onde acabavam por morrer.
A berma das estradas começou a encher-se corpos mortos ou moribundos gritando e implorando por auxílio.
O número de prisioneiros em marcha foi diminuindo pelo calor, malária, disenteria e desidratação.
Entretanto, os castigos infligidos aos prisioneiros não eram, na maioria, provenientes de japoneses mas sim de coreanos alistados no Exército Imperial, o Japão ocupava a Coreia há mais de trinta anos, que por não terem a confiança dos japoneses para participarem no combate, eram colocados na função de guardas de prisioneiros.
No fim da Marcha da Morte, cerca de 54 000 prisioneiros chegaram ao destino vivos.
A contagem dos mortos é difícil de ser estabelecida com precisão porque milhares deles conseguiram escapar dos guardas durante a marcha, muitos acabaram por morrer nas florestas de Luzon.
Noutros casos, raros, os prisioneiros acabaram por ser libertados nas matas pelos seus captores por absoluta impossibilidade de cuidar de todos.
Num total provável, cerca de 650 norte-americanos e 10 000 filipinos morreram antes de chegar ao campo O'Donnell.
Após a rendição do Japão em 2 de setembro de 1945, o tenente-general Homma foi conduzido ao Comissariado Aliado de Crimes de Guerra, em Manila, para responder pelos seus atos, não apenas as atrocidades na Marcha da Morte mas também as que se seguiram no campo O'Donnell.
O tenente-general, que tinha estado completamente absorvido nos seus esforços para tomar Corregedor e acabar por conquistar as Filipinas, acabou por não se dar conta e até desconhecer, segundo ele, os efeitos malévolos desta Marcha da Morte, tendo sido só informado dos detalhes do morticínio dois meses após o ocorrido.
O seu ato de negligência custou-lhe a vida.
Julgado e condenado por crime de guerra, foi executado por um pelotão de fuzilamento nos arredores de Manila em 3 de abril de 1946.
Fontes: História da Segunda Guerra Mundial; Enciclopédia; Outras.
1.ª imagem: Prisioneiros carregam os corpos de seus companheiros caídos durante a Marcha.
2.ª imagem: Prisioneiros aguardam o começo da Marcha.
3.ª imagem:Prisioneiros americanos durante a Marcha da Morte.
4.ª imagem: O tenente-general Homma na prisão aguardando o julgamento.
Sem comentários:
Enviar um comentário