O martírio do padre Malagrida
No dia 20 de setembro de 1761 teve lugar um auto-de-fé nos claustros do Convento de S. Domingos, em Lisboa. A principal figura era Gabriel Malagrida, um padre jesuíta italiano acusado e condenado por heresia pela Inquisição e “relaxado à justiça secular”, ou seja, condenado à morte.
Foi conduzido pelas ruas de Lisboa “com mordaça e carocha”, isto é, amarrado e com barrete de condenado, até ao Rossio, onde foi garroteado e o seu corpo queimado na fogueira, já no dia seguinte.
Gabriel Malagrida foi um jesuíta italiano, nascido na vila de Managgio, a 18 de Setembro de 1689.
Desde criança deu provas de engenho e ao mesmo tempo duma tendência exagerada para o misticismo. Depois de completar em Milão os seus estudos entrou na Companhia de Jesus, em Génova, a 27 de Setembro de 1711.
Resolvendo dedicar-se às missões, saiu de Génova em 1721, seguindo para o Maranhão, onde os seus superiores o designaram para pregar, sendo depois nomeado em 11 de Outubro de 1723 pregador do colégio do Pará, e ali o encarregaram dos alunos. Não cessava, contudo, de missionar na cidade e nas aldeias circunvizinhas, até que lhe ordenaram que voltasse ao Maranhão, sendo desde logo escolhido para reitor da missão dos Tobajáras. Na narrativa das suas missões não falava senão em vozes misteriosas que o avisavam; tudo são milagres e prodígios. Malagrida julgava-se favorito do céu. Em 1727, por ordem dos superiores, voltou ao Maranhão para reger no colégio dos jesuítas a cadeira de belas letras, mas logo em 1728 voltou a catequizar os índios. Em 1735 começou a missionar entre os colonos, seguindo do Maranhão para a Baía, e dali a Pernambuco, voltando enfim ao Maranhão. Durante 14 anos, até 1749, conservou-se nestas missões granjeando neste tempo a fama de taumaturgo, e a denominação de apóstolo do Brasil. Em 1749 veio para a Europa, com a fama de santo, vindo tratar de arranjar dotações para os vários conventos e seminários que fundara. Em Lisboa foi acolhido como santo, e a imagem, que trazia consigo, foi conduzida em procissão para a igreja do colégio de Santo Antão. D. João V, nessa época, estava muito doente, e acolheu de braços abertos o santo jesuíta, fez-lhe todas as concessões que ele desejava, e chamou-o para junto de si na hora extrema. Foi Gabriel Malagrida quem assistiu aos últimos momentos do monarca. Em 1751 voltou ao Brasil, mas não foi bem recebido no Pará, onde governava então o irmão do Marquês de Pombal. Até 1754 Malagrida esteve no Maranhão missionando entre os cristãos.
Em 1751 voltou a Lisboa, por ser chamado pela rainha, viúva de D. João V, D. Maria Ana da Áustria e encontrou no poder o Marquês de Pombal. O Marquês que se propusera a “regenerar Portugal”, livrando-o da tutela dos jesuítas, não podia simpatizar com o taumaturgo. Não o deixando entrar na intimidade da rainha viúva, Malagrida partiu para Setúbal, onde depois teve a notícia da morte da soberana. O Marquês de Pombal não se importou com aquele jesuíta santo, enquanto as suas "santidades" não contrariavam os seus projectos, mas o conflito era inevitável. Aquando do terramoto de 1755, Malagrida estava em Lisboa. Aquela catástrofe ocasionou um terror imenso na população da capital, e um dos grandes empenhos do Marquês de Pombal era levantar os espíritos abatidos. Para isso mandou compor e publicar um folheto escrito por um padre, em que se explicavam as causas naturais dos terramotos, e se desviava a crença desanimadora de que fora castigo de Deus, e de que eram indispensáveis a penitência e a compunção. Saiu a campo indignado o padre Malagrida escrevendo um folheto intitulado:Juizo da verdadeira causa do terremoto que padeceu a corte de Lisboa no 1.º de Novembro de 1755. Nesse folheto combatia com indignação as doutrinas do outro que Pombal fizera espalhar, atribuía a castigo de Deus o terramoto, citava profecias de freiras, condenava severamente os que levantaram abrigos nos campos, os que trabalhavam em levantar das ruínas da cidade, e recomendava procissões, penitências, e sobretudo recolhimento e meditação de seis dias nos exercícios de santo Inácio de Loyola. O Marquês de Pombal não era homem que permitisse semelhantes contrariedades. Mandou queimar o folheto pela mão do algoz, e desterrou Malagrida para Setúbal. O jesuíta imaginava que, com o seu prestígio de taumaturgo, podia lutar contra a vontade do marquês, e parece, que de Setúbal escreveu mais uma carta ameaçadora e por isso Malagrida foi preso, transferido para o colégio da sua ordem em Lisboa, e no dia 11 de Janeiro de 1759, considerado réu de lesa-majestade, sendo transferido para as prisões do Estado. Sendo depois entregue à Inquisição, Malagrida foi condenado à pena de garrote e de fogueira, realizando-se o suplício no Rossio no auto de fé de 20 de Setembro de 1761. As suas cinzas foram espalhadas ao vento.
Auto de Fé
“(…) que com baraço e pregão seja levado pelas ruas públicas desta cidade até à Praça do Rossio e que nela morra morte natural de garrote, e que, depois de morto, seja seu corpo queimado e reduzido a pó e cinza, para que dele e de sua sepultura não haja memória alguma”
Bom dia,
ResponderEliminarSei que não é a forma mais indicada para o contacto, mas não encontro outra forma possível. Gostaria muito que pudesse entrar em contacto comigo, pois penso ter informações familiares que lhe possam interessar: tiago.rebelo.de.andrade@gmail.com
Obrigado,
TRA