Como surgiu a expressão "Andar na calhandrice"
A Lisboa dos séculos XII, XIII e XIV, tinha imensos escravos brancos. A novidade da escravatura que nasceu da expansão marítima portuguesa, foi a quantidade de pessoas negras que foram trazidas à força, sobretudo da costa ocidental africana, e o tempo que essa prática, legal e com carácter sistemático durou, de meados do séc.XV até finais do séc. XVIII. Ao longo de 350 anos entraram em Portugal cerca de 1 milhão de cativos africanos.
Na Lisboa daquele tempo coabitavam pessoas livres e pessoas escravizadas em perfeito ambiente de naturalidade e toda a sociedade aceitava a escravatura como algo normal e perfeitamente legítimo. A escravatura manteve-se, em pleno, até ao governo de Sebastião José de Carvalho e Melo, (mais tarde agraciado com o título nobiliárquico de Marquês de Pombal em 1770), que implementou leis no sentido de abolir a escravatura na Metrópole. As primeiras medidas, em 1761, foram a de proibir a entrada de novos escravos, em que todos os homens e mulheres que entrassem em Portugal seriam homens livres e, em 1773, com a declaração da "Lei do Ventre Livre" que decretava que, a partir daquela altura todos os filhos nascidos de mulheres escravas nasceriam livres. Porém, estas medidas não eliminavam completamente a escravatura pois, quem já era escravo continuava a sê-lo.
Como se pode calcular, os escravos geralmente faziam os trabalhos que as outras pessoas não queriam fazer, como os trabalhos pesados ou "sujos". Às escravas cabia a responsabilidade de fazer os trabalhos domésticos e, entre eles, o de esvaziar e lavar os penicos das casas senhoriais. O conteúdo dos penicos era despejado no Tejo por um grupo de escravas que o transportavam à cabeça, dentro de um pote muito grande a que chamavam "o calhandro" sendo que elas eram chamadas "mulheres do pote" ou "calhandreiras", pois transportavam o "calhandro" . Essas escravas, no seu trabalho diário, enquanto carregavam, e despejavam o "calhandro", iam falando umas com as outras e contando o que se passava na casa dos seus patrões e donos, o que originava, muitas vezes, que a vida de muitos senhores andasse de boca em boca e fosse do conhecimento público.
Foi assim que passou a chamar-se "calhandreira" a alguém que gosta de falar da vida alheia, com a acusação de "Andar na calhandrice".
Sem comentários:
Enviar um comentário