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sábado, 11 de setembro de 2010

A 12 de Setembro de 1943, deu-se o resgate de Mussolini


Operação Eiche: o resgate de Mussolini
Os alemães estimavam que a operação para retirar Mussolini da prisão teria 70% de baixas. Mas o ditador foi salvo sem que ninguém disparasse um único tiro



Era o começo da tarde de um domingo, 12 de Setembro de 1943, e Benito Mussolini jogava paciência num quarto do segundo andar do hotel Campo Imperatore, na região de Gran Sasso, a 160 quilómetros de Roma. Localizado na região mais alta dos Montes Apeninos, o hotel fica perto de algumas estações de esqui muito procuradas pelos europeus. Mas Mussolini não estava ali a passeio. Dois meses antes, o ditador havia sido deposto pelo rei Vittorio Emanuele III e transformado em prisioneiro. Às 14 horas, o jogo de cartas foi interrompido quando oito planadores desceram perto do hotel. Sem disparar um único tiro, 72 pára-quedistas de um comando especial da SS dominaram sem dificuldade os 150 soldados italianos que estavam no local. O comandante da acção, o capitão OttoSkorzeny, entrou no quarto 211 e avisou: “Duce, fui enviado pelo Führer para resgatar o senhor”. Ao que Mussolini reagiu: “Eu sabia que meu amigo nunca me abandonaria”. Terminava assim a operação Eiche, uma das acções mais arriscadas da Segunda Guerra.

Hitler admirava Mussolini, mas a operação Eiche tinha outra motivação: o primeiro-ministro que substituiu Mussolini, o marechal Pietro Badoglio, não resistiu aos ataques aliados e, no dia 8 de Setembro, assinou um armistício. Hitler queria recuperar os aliados italianos, e não havia nenhum outro líder com a capacidade de mobilização de Mussolini. Foi por isso que o Führer criou um grupo de operações especiais para localizar e resgatar o ex-ditador. A tarefa era complicada: Hitler havia retirado todos os espiões da Itália. Seria preciso começar do zero.

Seis semanas

Otto Skorzeny e o general Kurt Student passaram seis semanas rastreando os passos de Mussolini. Descobriram que, depois de preso,  havia sido mantido pelos carabinieri em Roma. De lá foi transferido para a ilha de Ponza, para a base naval de La Spezia e, por fim, para uma vila na Sardenha. A um dia da acção alemã, o ditador foi transferido novamente. Quando descobriram que o novo destino do Duce era a região do Gran Sasso, Skorzeny e Student agiram rápido. Depois de sobrevoar o hotel duas vezes para um rápido mapeamento, os dois escolheram um método dos mais arriscados: desembarcar no hotel usando planadores com um comando de pára-quedistas.

Os planadores eram comuns na Alemanha desde os anos 20. Como o país estava proibido de manter uma Força Aérea, o governo usava essas aeronaves para treinar os futuros pilotos de caças. Durante a Segunda Guerra, Hitler usou planadores sempre que era necessário invadir o território inimigo com rapidez e precisão. Tal expediente foi usado com sucesso na invasão da fortaleza de Eben Emael, na Bélgica. Mas em grandes acções esses aviões eram alvos fáceis para as baterias antiaéreas. Ciente do risco que corria, o comando da operação Eiche esperava que as baixas chegariam a 70%.

Factor surpresa

Na manhã do dia 12, 108 homens das forças especiais alemãs, portando fuzis-metralhadoras FG-42 de 7,92 mm, descolaram em 12 planadores DFS 230 da base de Practira del Mare, nos arredores de Roma. Três aeronaves perderam-se na decolagem e no vôo, e uma quarta perdeu-se na aterragem, o que tirou 36 homens de acção – eram nove militares por aparelho, mais o piloto. Ao mesmo tempo, 300 soldados seguiam por terra para capturar o teleférico na base da montanha onde ficava o hotel e, com isso, isolar o local. Skorzeny sabia que o factor surpresa era fundamental, e que o moral dos soldados italianos estava baixo, já que o rei e o general Badoglio haviam fugido do país dias antes. Por isso, orientou os homens a realizar uma acção rápida e a não atirar, a não ser em último caso. A estratégia funcionou. O comandante dos carabinieri no Campo Imperatore, o general-inspetor Giuseppe Gueli, estava a dormir quando os alemães chegaram. Sua primeira e única instrução foi para todos se renderem. Fazendo isso, ele desobedecia a uma orientação recebida dias antes – se tentassem libertar Mussolini, ele deveria ser executado.

Mussolini foi levado para Viena e de lá para Munique, onde encontrou Hitler pela última vez. Três dias depois, o líder nazista já havia despachado o amigo de volta para a Itália. Instalado na vila de Gargnano e cercado por homens da SS, no norte do país (que ainda não havia sucumbido aos aliados), Mussolini anunciou em 23 de Setembro a fundação da República Social Italiana. A experiência acabaria em Abril de 1945, quando os aliados tomaram o restante do país. Mussolini e sua amante, Clara Petacci, foram presos por comunistas italianos. Os dois foram executados no dia 28 de Abril, e seus corpos foram expostos  numa praça pública de Milão.



Scarface

O resgate de Mussolini deu fama a Otto Skorzeny, que passou a ser citado nas rádios alemãs como o homem mais temido da Europa. Mas, quando comandou a operação Eiche, Skorzeny já era respeitado. Nascido na Áustria em 1908,  era membro do partido comunista e fazia parte de uma sociedade de esgrima – foi num duelo, em 1928, que ganhou as cicatrizes no rosto que justificariam o apelido de Scarface. Quando o seu país foi anexado pela Alemanha, já havia lutado na Guerra Civil Espanhola ao lado das tropas de Franco. Preso depois da Segunda Guerra, fugiu de um campo de prisioneiros na Alemanha e instalou-se na Espanha, de onde só saía para prestar consultoria na formação de grupos especiais de espionagem. Tornou-se consultor de homens como o presidente egípcio Gamel Nasser e o argentino Juan Domingo Péron. Morreu milionário em Madri, em 1975.
Em busca do Duce
A operação para libertar Mussolini demorou uma hora e mobilizou mais de 100 homens

1. O capitão Otto Skorzeny recebe ordens de Hitler para criar e liderar um grupo para resgatar o Duce. Após seis semanas de busca,  descobre que Mussolini está no Hotel Campo Imperatore, a 160 quilómetros de Roma.

2. Em setembro de 1943, 108 homens descolam em 12 planadores de uma base perto de Roma. Três aviões perdem-se na descolagem, e um, na aterragem – 36 homens ficam fora da acção.

3. Ao mesmo tempo, 300 soldados seguem por terra para capturar o teleférico a 800 metros do hotel. O Campo Imperatore é um resort nos Alpes italianos, perto de duas estações de esqui. O local é cercado pelos alemães.

4. Os planadores chegam ao hotel. Oito param no ponto previsto, mas um erra a manobra e cai na frente do hotel. Os soldados ficam feridos e a acção passa a contar com 72 homens.

5. Skorzeny pára a 40 metros do hotel. Corre para a porta com um soldado, que grita para os italianos: “Mãos aos alto!”. Nenhum carabinieri reage. Skorzeny vê Duce na janela e pede que ele entre.

6. O líder alemão rende os guardas da porta do hotel, entra no hall central e quebra um rádio com a arma. Os nazis entram no prédio e assumem o local.

7. Skorzeny sobe a escada e vai até o quarto 201. Dois homens fazem a guarda de Mussolini lá dentro – outros dois estavam do lado de fora. Skorzeny anuncia a missão, dirigindo-se para o Duce.

8. No 3º andar, o comandante italiano já sabe da acção. Fora acordado e informado por um soldado, e pede que seus homens se rendam. Mussolini sai do hotel e é colocado  num avião Storch, com capacidade para só um passageiro, além do piloto. Skorzeny faz questão de ir junto, e os três apertam-se: ele vai sentado atrás de Mussolini.

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