"Ao que nos informam, vai ser comemorado. em Coimbra, em começo do próximo ano, o centenário do nascimento do Hilário, porventura o mais conhecido cantador de fados da boémia académica coimbrã. A iniciativa da comemoração partiu de um antigo estudante de Coimbra, o dr. Vivaldo Gaspar de Freitas, e segundo nos informam também, do programa comemorativo farão parte, alem de um serão literário e musical, uma exposição evocadora do célebre cantor e guitarrista. Celebrar o Hilário não é apenas recordar uma figura, é recordar uma época de que ele constituiu uma expressão.
Em 7 de Janeiro de 1864 veio ao Mundo, em Viseu, um pequeno,filho de António da Costa Alves e de Ana de Jesus, que foi baptizado com o nome de Lázaro Augusto. Tendo sido crismado em 25 de Maio de 1877. passou a chamar-se em vez de Lázaro Augusto, Augusto Hilário. Concluído o curso liceal, Augusto Hilário matriculou-se, em 12 de Outubro de 1886, na Universidade de Coimbra, nos preparatórios para Medicina, mas boémia a quanto obrigas,só seis anos depois, concluiu esses preparatórios e ingressou na Faculdade.Não viria, porém, a ser médico. Rouxinol , nascera para cantar. Por companheira inseparável tinha a guitarra."Se um dia me tirarem a guitarra, tiram-me a vida". Uma cirrose do fígado, com várias complicações, levou-o aos trinta e dois anos.
Pouco antes de morrer chamou a mãe e pediu-lhe que lhe desse a guitarra estremecida.
"Já não posso tocar, mãe. Mas quero despedir-me dela..."
Não tardou que desfalecesse. O Hilário morrera. Marcava o calendário,3 de Abril de 1896, Sexta Feira de Paixão. A nova correu célere: um manto de luto cobriu a cidade do Mondego; e, ao som das guitarras saudosas, toda a velha Coimbra cantou:
Guitarras andam de luto.
Que o Hilário morreu
Seu corpo guarda-o a campa
Sua alma voou ao céu
O Hilário desaparecera nas sombras da morte, mas a memória do que ele foi e do que ele representou permanece viva na tradição coimbrã. Como escreveu Octaviano de Sá, sempre
que se fala da Coimbra boémia, do encanto das suas serenatas, da melodiosa dolência dos seus fados,logo ocorre o nome do Hilário. Nada mais exacto. Já não se escutará nem a sua voz melodiosa, nem a sua guitarra plangente, mas os seus fados, quer pelos versos, quer pela música, ficarão como expressão de um estilo inapagável:
Quero que o meu caixão,
Tenha uma forma bizarra...
A forma de um coração,
A forma de uma guitarra
Uma guitarra e um coração, eis Hilário! "
In Boletim da Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais, Outono de 1963
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