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quarta-feira, 23 de maio de 2012

As carpideiras no Antigo Egipto


Depois da morte, a múmia preparada e colocada num trenó puxado por bois, organizado o cortejo fúnebre... aparecem as carpideiras.
As Carpideiras – de veste branca e sem ornamentos, seios nus, batem no peito e cobrem a cabeça de pó. Desoladas lançam gritos de dor, evocam o bom pastor que partiu para o país da eternidade, ou seja, o defunto assimilado ao deus ressuscitado que sabe conduzir o rebanho humano aos paraísos do Além. Elas dispõem de um repertório de textos e cânticos livres sem improvisação.
"Tu, cuja casa era numerosa, encontras-te agora numa terra solitária. Aquele que gostava de mexer as pernas e andar está imóvel e enfaixado."
Cantoras da deusa Hathor, as carpideiras intervêm nos funeráis e estão encarregadas também de fazer o gesto de ka, a fim de manterem a energia criadora que sobriveverá ao nada.
Ísis e Néftis, os dois milhafres fêmeas – as duas principais carpideiras chamavam-se djeryt, ou seja, "milhafres fêmeas": aves de rapina que pousavam à cabeça e aos pés do sarcófago e o protegiam. Vemos também elas no barco que transporta o féretro para o paraíso dos justos. Essas duas aves são Ísis eNéftis, "a voz da justiça"; durante os rituais, como exemplo: mulheres como a dama Ny-Ankh-Hathor, "Aquela que pertence à vida, Hathor", que viveu na sexta dinastia, estão encarregadas de encarnar as deusas. Essas iniciadas usavam um comprido traje de alças que deixava os seios à mostra; um aro cingia a sua curta peruca. Traziam cofres de madeira, que continham tecidos e vestes de ressurreição.

Ísis é a grande carpideira

Néftis a pequena carpideira

Recitavam-se as lamentações de Ísis e Néftis, cujo beneficiário era Osíris, ou seja, todos os seres reconhecidos como justos pelo tribunal do outro mundo. Nas festas das carpideiras:

purificam os locais onde oficiavam

depiladas e com perucas frisadas

Ísis e Néftis tinham o nome inscrito no braço

veneravam Osíris quatro vezes

e um ritualista respondia-lhes "O Céu está reconciliado com a Terra"

Para terem a boca pura, as carpideiras mascavam natrão e depois eram incensadas. O olho de Hórus, sinônimo de oferenda, borrifava o seu perfume sobre elas. Elevavam-se cântigos e músicas, anunciando a tranformação deOsíris morto em Osíris vivo.
A intervenção da carpideira e a intensidade do seu amor produzem um resultado feliz. O esposo de Ísis regressa a seus braços, ela começa por sentir a sua presença graças ao seu perfume, o perfume do maravilhoso país do Ponto;Osíris ressucitado derrama a vida à sua volta. As carpideiras contribuíram para esse milagre.

Do livro: As Egípcias de Christian Jacq

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