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sexta-feira, 27 de julho de 2012

Faz hoje 42 anos que António de Oliveira Salazar morreu



Faz hoje 42 anos que António de Oliveira Salazar morreu, ficando para a história como o homem que liderou a ditadura mais longa da Europa. Depois da sua morte veio a revolução de Abril, a democracia, a Comunidade Económica Europeia, o rock dos anos 80, o multibanco e o cartão de crédito. E o ditador foi ficando para trás, "vagamente presente" na memória dos que hoje "têm menos de 40 anos", explica António Costa Pinto, investigador do Instituto de Ciências Sociais. Apesar de tudo isso, Salazar sobrevive. Ainda há quem o defenda na praça pública sem qualquer embaraço. São "uma minoria", esclarece o especialista em ciência política, mas o certo é que fazem barulho suficiente para, à primeira oportunidade, ressuscitar a figura do ditador e transformá-lo numa vedeta pop capaz de vencer com larga maioria os concursos televisivos como o "Grande Português" do século XX.
João Gomes, empresário de Lisboa, Filipe Ferreira, historiador e ex-militar da Força Aérea emigrado em Bruxelas, ou Vítor Luís Rodrigues, designer e publicitário a viver na capital, pertencem a esta espécie de gueto que se organiza em circuito quase fechado para relembrar os velhos tempos do Estado Novo. Defendem Salazar contra todos, nas ruas, à mesa dos restaurantes, nos cafés, na blogosfera, mas recusam ser encarados como homens a tresandar a naftalina ou como habitantes de uma ilha suspensa no tempo. O elogio ao ditador é acima de tudo um queixume amargurado sobre a "decadência da democracia" ou um descontentamento permanente porque os valores como a "ética, a integridade e o patriotismo estarem em vias de extinção", desabafa Vítor Luís Rodrigues.
Os admiradores de Salazar martelam quase sempre na mesma tecla. Gostavam de viver num Portugal sossegado. Sem crime, sem ameaças exteriores, sem corrupção e com políticos de liderança forte. Isso não significa que queiram Salazar de volta. "Não defendo o regresso do Estado Novo nem tenho qualquer réstia de saudosismo", esclarece Filipe Ferreira, membro do Núcleo de Estudos Oliveira Salazar, sediado em Lisboa. Salazar é apenas o modelo que qualquer político deveria seguir nos seus actos e princípios: "Pedia aos outros o mesmo que pediu a si próprio", explica o emigrante de 48 anos. Ou dito de outra forma para dizer o mesmo: "Foi o governante que menos se apropriou dos bens públicos, que morreu sem um tostão e que governou tendo sempre como objectivo os interesses do país", acrescenta João Gomes, autor e administrador do blogue "Obreiro da Pátria".
É o trunfo de Salazar. Gastou pouco e, mesmo após a sua morte, a modéstia perdurou: deixou uma conta bancária na Caixa Geral de Depósitos de 274 892 escudos, terras avaliadas em 100 contos e foi sepultado numa das campas mais simples do cemitério do Vimieiro. E é esse "sentido de poupança" que é preciso recuperar, defende Vítor Luís Rodrigues. Sobretudo agora que a "dívida pública engorda aos milhões a cada semestre, que a taxas de juro sobem, que as famílias endividadas se multiplicam, que o desemprego bate recordes", avisa o designer de 54 anos.

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